Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 7 de novembro de 2017

Valery Larbaud - A Máscara

A refletir o problema essencial da identidade, este poema de Larbaud levanta a questão fundamental do homem a incorporar suas máscaras frente aos pares, para fazer valer uma realidade que possivelmente passa ao largo de suas mais íntimas convicções.

Se o poeta pede ao leitor um afeto que lhe torne a máscara veneziana melhor acoplada ao rosto, espera ele pela reciprocidade às palavras que direciona aos ouvintes, ainda que tais palavras reflitam “fingimento”. Afinal, o vate é ou não um ilusionista, a julgar pela “Autopsicografia” de Pessoa?!  

J.A.R. – H.C.

Valery Larbaud
(1881-1957)

Le Masque

J’écris toujours avec un masque sur le visage;
Oui, un masque à l’ancienne mode de Venise,
Long, au front déprimé,
Pareil à un grand mufle de satin blanc.
Assis à ma table et relevant la tête,
Je me contemple dans le miroir, en face
Et tourné de trois quarts, je m’y vois
Ce profil enfantin et bestial que j’aime.
Oh, qu’un lecteur, mon frère, à qui je parle
À travers ce masque pâle et brillant,
Y vienne déposer un baiser lourd et lent
Sur ce front déprimé et cette joue si pâle,
Afin d’appuyer plus fortement sur ma figure
Cette autre figure creuse et parfumée.

Carnaval ao Pôr do Sol
(Graham Denison: pintor inglês)

A Máscara

Escrevo sempre tendo a máscara no rosto;
sim, essa máscara à antiga moda veneziana,
longa, de testa baixa,
como um grande focinho de cetim branco.
Sentado à mesa e levantando a cabeça,
contemplo-me no espelho, de frente
e de três quartos, e vejo
esse perfil infantil e bestial que eu amo.
Oh, que um leitor, meu irmão, a quem eu falo
através da máscara pálida e brilhante,
venha depor um beijo longo e lento
sobre a testa apertada e essa face tão pálida,
a fim de calcar mais fortemente sobre o meu
esse outro rosto perfumado e oco.

Referência:

LARBAUD, Valery. Le masque / A máscara. Tradução de Carlos Drummond de Andrade. In: ANDRADE, Carlos Drummond. Poesia Traduzida. Edição bilíngue. Organização e notas de Augusto Massi e Júlio Castañon Guimarães. São Paulo, SP: 7Letras; Cosac Naify, 2011. Em francês: p. 208; em português: p. 209. (Coleção ‘Ás de Colete’; n. 20)

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