O poeta revela não ser afeito a empregar pronomes possessivos para
especificar a “sua” arte, pois ela apenas se lhe apresenta como um engenho por
meio do qual se põe a expressar a sua “indecifrável condição”, ou por dilação,
sua “encarnação insustentável”.
Ao céu ou ao inferno, ao paraíso edênico ou aos remansos desérticos, ao
parnaso habitado pelas musas e, mais acima, aos páramos, ou pelas entranhas
abissais do desterro, vemos o poeta ser transportado até onde as suas mundanas
contingências o submeterem.
J.A.R. – H.C.
Mario Luzi
(1914-2005)
Dove mi porti, mia arte?
Dove mi porti, mia
arte?
in che remoto
deserto territorio
a un tratto mi sbalestri?
In che paradiso di
salute,
di luce e libertà,
arte, per incantesimo
mi scorti?
Mia? non è mia questa
arte,
la pratico, la
affino,
le apro le riserve
umane di dolore,
divine me ne appresta
lei di ardore
e di contemplazione
nei cieli in cui mi inoltro…
Oh mia indecifrabile
conditio,
mia insostenibile
incarnazione!
(Anna Ewa Miarczynska:
pintora polonesa)
Aonde me levas, arte minha?
Aonde me levas, arte
minha?
em que remoto e
desértico território
de repente me lanças?
Rumo a que paraíso de
saúde,
de luz e liberdade,
arte, por
encantamento me escoltas?
Minha? não é minha
esta arte,
pratico-a, afino-a,
abro-lhe a reserva
humana de dor,
divina apresta-me
ela de ardor
e de contemplação
nos céus em que me
embrenho...
Oh minha indecifrável
condição,
minha insustentável
encarnação!
Referência:
LUZI, Mario. Dove mi porti, mia arte? In: __________. L’opera poetica. Lui, la sua arte. Milano,
IT: Arnoldo Mondadori, 1998. p. 1073.
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