Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 11 de novembro de 2017

Mario Luzi - Aonde me levas, arte minha?‎

O poeta revela não ser afeito a empregar pronomes possessivos para especificar a “sua” arte, pois ela apenas se lhe apresenta como um engenho por meio do qual se põe a expressar a sua “indecifrável condição”, ou por dilação, sua “encarnação insustentável”.

Ao céu ou ao inferno, ao paraíso edênico ou aos remansos desérticos, ao parnaso habitado pelas musas e, mais acima, aos páramos, ou pelas entranhas abissais do desterro, vemos o poeta ser transportado até onde as suas mundanas contingências o submeterem.

J.A.R. – H.C.

Mario Luzi
(1914-2005)

Dove mi porti, mia arte?

Dove mi porti, mia arte?
in che remoto
deserto territorio
a un tratto mi sbalestri?

In che paradiso di salute,
di luce e libertà,
arte, per incantesimo mi scorti?

Mia? non è mia questa arte,
la pratico, la affino,
le apro le riserve
umane di dolore,
divine me ne appresta
lei di ardore
e di contemplazione
nei cieli in cui mi inoltro…

Oh mia indecifrabile conditio,
mia insostenibile incarnazione!

O Guardião das Mudanças do Destino
(Anna Ewa Miarczynska: pintora polonesa)

Aonde me levas, arte minha?

Aonde me levas, arte minha?
em que remoto e
desértico território
de repente me lanças?

Rumo a que paraíso de saúde,
de luz e liberdade,
arte, por encantamento me escoltas?

Minha? não é minha esta arte,
pratico-a, afino-a,
abro-lhe a reserva
humana de dor,
divina apresta-me
ela de ardor
e de contemplação
nos céus em que me embrenho...

Oh minha indecifrável condição,
minha insustentável encarnação!

Referência:

LUZI, Mario. Dove mi porti, mia arte?In: __________. L’opera poetica. Lui, la sua arte. Milano, IT: Arnoldo Mondadori, 1998. p. 1073.

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