O livro é o maior dos bens que se pode legar aos descendentes, a contar
tudo o que houver transcorrido a quem o escrever, assim como aos seus
antepassados – , ou como afirma o poeta romeno, a loucura vivenciada pelos ancestrais
–, preservando, desse modo, o liame da narrativa familiar.
Trata-se de um longo cortejo, serpenteando como uma cobra, a rastejar
desde a noite dos tempos, revolvendo as alegrias e dissabores dos finados
servos em seu diuturno labor campesino, tudo gravado em toadas capazes de fazer
espicaçar o humor do suserano, “como um bode apunhalado”.
J.A.R. – H.C.
(1880-1967)
Testament
Nu-ţi voi lăsa drept bunuri, după moarte,
Decât un nume adunat
pe-o carte.
În seara răzvrătită
care vine
De la străbunii mei până la tine,
Prin râpi şi gropi
adânci,
Suite de bătrânii mei pe brânci,
Şi care, tânăr, să le urci te-aşteaptă,
Cartea mea-i, fiule,
o treaptă.
Aşeaz-o cu credinţă căpătâi.
Ea e hrisovul vostru
cel dintâi,
Al robilor cu
saricile, pline
De osemintele vărsate-n mine.
Ca să schimbăm, acum, întâia oară,
Sapa-n condei şi
brazda-n călimară,
Bătrânii-au adunat, printre plăvani,
Sudoarea muncii
sutelor de ani.
Din graiul lor
cu-ndemnuri pentru vite
Eu am ivit cuvinte potrivite
Şi leagăne urmaşilor stăpâni.
Şi, frământate mii de săptămâni,
Le-am prefăcut în visuri şi-n icoane.
Făcui din zdrenţe muguri şi coroane.
Veninul strâns l-am
preschimbat în miere,
Lăsând întreagă dulcea lui putere.
Am luat ocara, şi
torcând uşure
Am pus-o când să-mbie, când să-njure.
Am luat cenuşa morţilor din vatră
Şi am făcut-o Dumnezeu de piatră,
Hotar înalt, cu două lumi pe poale,
Păzând în piscul datoriei tale.
Durerea noastra surdă şi amară
O grămădii pe-o singură vioară,
Pe care ascultând-o a
jucat
Stăpânul, ca un ţap înjunghiat.
Din bube, mucegaiuri
şi noroi
Iscat-am frumuseţi şi preţuri noi.
Biciul răbdat se-ntoarce în cuvinte
Si izbăveste-ncet pedepsitor
Odrasla vie-a crimei
tuturor.
E-ndreptăţirea ramurei obscure
Ieşită la lumină din pădure
Şi dând în vârf, ca
un ciorchin de negi,
Rodul durerii de
vecii întregi.
Întinsă leneşă pe canapea,
Domniţa suferă în cartea mea.
Slova de foc şi slova
făurită
Împărechiate-n carte se mărită,
Ca fierul cald îmbrăţişat în cleşte.
Robul a scris-o,
Domnul o citeşte,
Făr-a cunoaşte că-n adâncul ei
Zace mania bunilor
mei.
O Livro
(Michaël Zancan:
pintor francês)
Testamento
Não vou te deixar
bens quando eu morrer:
Meu nome sobre um
livro é o que vais ter.
Uma noite rebelde se
desdobra
Desde os meus
ancestrais e em ti deságua.
Pelos abismos e
gargantas d’água,
Um cortejo antigo,
como uma cobra,
Rasteja. Eles esperam
que os levantes:
És jovem, filho, e
este livro vem de antes.
Repousa este livro
com fé à cabeceira.
Este livro – que é
vossa escritura primeira –
Dos servos traz
mantos carregados sem fim
Das ossadas que se
derramam sobre mim.
Para que pudéssemos,
pela primeira vez,
Converter em pena a
enxada e em tinteiro a torquês,
Por entre o rebanho
os antigos semearam
O suor do lavor dos
séculos que passaram.
Com suas vozes para o
gado talhadas
Esculpi as palavras
adequadas
E os berços dos
feitores por nascer.
E em mil e uma
semanas a remoer
Em ícones e sonhos eu
as transformei –
De farrapos, botões e
coroas tramei.
O enérgico veneno em
mel foi transformado,
E o seu poder
incólume vai preservado.
Com frio vagar,
desenredei a humilhação
Para envergá-la em
súplica e na maldição.
As cinzas dos meus
mortos ao fogo tomei
E um Deus de pedra
com elas representei
– Domínio alteroso,
que dois mundos concebeu,
Ele guarda os cumes
daquilo que há de ser teu –.
Nossas dores, amarga
e surda, conciliadas
Num distinto arrabil
então foram cantadas
E o seu som, tendo-o
ouvido, fez se contorcer
O suserano, como um
bode apunhalado.
De feridas, mofo e
lama fiz nascer
A beleza esquiva e o
valor incriado.
O chicote aturado
soergue-se em palavras
Para vir libertar,
algoz clemente,
Dos nossos crimes a
cria vivente.
E, perfilando-se, os
ramos lúgubres
Vão-se erguendo da
floresta fúnebre
E culminam em luz,
qual cacho de tumores,
No fruto de todos os
séculos de dores.
Deitada
preguiçosamente no divã
A menina sofre lendo
o livro com afã.
A letra de fogo e a
letra forjada – vê! –
No livro, em pares,
ei-las portanto casadas,
Como o ferro quente
nas pinças abraçadas.
O vassalo o escreveu,
o Senhor o lê,
Sem saber que em suas
grotas abissais
Jaz a loucura dos
meus ancestrais.
Referência:
ARGHEZI, Tudor. Testament / Testamento.
Tradução de Raul Passos. In: PASSOS, Raul. Testament și alte poezii /
Testamento e outros poemas. (n.t.)
Revista Literária em Tradução. Florianópolis, SC. Edição bilíngue
semestral, ano 4, n. 7, set. 2013. Em romeno: p. 128-129; em português: p.
134-135. Disponível neste endereço. Acesso em: 20 nov.
2017.
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