Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 28 de novembro de 2017

Tudor Arghezi - Testamento

O livro é o maior dos bens que se pode legar aos descendentes, a contar tudo o que houver transcorrido a quem o escrever, assim como aos seus antepassados – , ou como afirma o poeta romeno, a loucura vivenciada pelos ancestrais –, preservando, desse modo, o liame da narrativa familiar.

Trata-se de um longo cortejo, serpenteando como uma cobra, a rastejar desde a noite dos tempos, revolvendo as alegrias e dissabores dos finados servos em seu diuturno labor campesino, tudo gravado em toadas capazes de fazer espicaçar o humor do suserano, “como um bode apunhalado”.

J.A.R. – H.C.

Tudor Arghezi
(1880-1967)

Testament

Nu-ţi voi lăsa drept bunuri, după moarte,
Decât un nume adunat pe-o carte.
În seara răzvrătită care vine
De la străbunii mei până la tine,
Prin râpi şi gropi adânci,
Suite de bătrânii mei pe brânci,
Şi care, tânăr, să le urci te-aşteaptă,
Cartea mea-i, fiule, o treaptă.

Aşeaz-o cu credinţă căpătâi.
Ea e hrisovul vostru cel dintâi,
Al robilor cu saricile, pline
De osemintele vărsate-n mine.

Ca să schimbăm, acum, întâia oară,
Sapa-n condei şi brazda-n călimară,
Bătrânii-au adunat, printre plăvani,
Sudoarea muncii sutelor de ani.
Din graiul lor cu-ndemnuri pentru vite
Eu am ivit cuvinte potrivite
Şi leagăne urmaşilor stăpâni.
Şi, frământate mii de săptămâni,
Le-am prefăcut în visuri şi-n icoane.
Făcui din zdrenţe muguri şi coroane.
Veninul strâns l-am preschimbat în miere,
Lăsând întreagă dulcea lui putere.
Am luat ocara, şi torcând uşure
Am pus-o când să-mbie, când să-njure.
Am luat cenuşa morţilor din vatră
Şi am făcut-o Dumnezeu de piatră,
Hotar înalt, cu două lumi pe poale,
Păzând în piscul datoriei tale.

Durerea noastra surdă şi amară
O grămădii pe-o singură vioară,
Pe care ascultând-o a jucat
Stăpânul, ca un ţap înjunghiat.
Din bube, mucegaiuri şi noroi
Iscat-am frumuseţi şi preţuri noi.
Biciul răbdat se-ntoarce în cuvinte
Si izbăveste-ncet pedepsitor
Odrasla vie-a crimei tuturor.
E-ndreptăţirea ramurei obscure
Ieşită la lumină din pădure
Şi dând în vârf, ca un ciorchin de negi,
Rodul durerii de vecii întregi.

Întinsă leneşă pe canapea,
Domniţa suferă în cartea mea.
Slova de foc şi slova făurită
Împărechiate-n carte se mărită,
Ca fierul cald îmbrăţişat în cleşte.
Robul a scris-o, Domnul o citeşte,
Făr-a cunoaşte că-n adâncul ei
Zace mania bunilor mei.

O Livro
(Michaël Zancan: pintor francês)

Testamento

Não vou te deixar bens quando eu morrer:
Meu nome sobre um livro é o que vais ter.
Uma noite rebelde se desdobra
Desde os meus ancestrais e em ti deságua.
Pelos abismos e gargantas d’água,
Um cortejo antigo, como uma cobra,
Rasteja. Eles esperam que os levantes:
És jovem, filho, e este livro vem de antes.

Repousa este livro com fé à cabeceira.
Este livro – que é vossa escritura primeira –
Dos servos traz mantos carregados sem fim
Das ossadas que se derramam sobre mim.

Para que pudéssemos, pela primeira vez,
Converter em pena a enxada e em tinteiro a torquês,
Por entre o rebanho os antigos semearam
O suor do lavor dos séculos que passaram.
Com suas vozes para o gado talhadas
Esculpi as palavras adequadas
E os berços dos feitores por nascer.
E em mil e uma semanas a remoer
Em ícones e sonhos eu as transformei –
De farrapos, botões e coroas tramei.
O enérgico veneno em mel foi transformado,
E o seu poder incólume vai preservado.
Com frio vagar, desenredei a humilhação
Para envergá-la em súplica e na maldição.
As cinzas dos meus mortos ao fogo tomei
E um Deus de pedra com elas representei
– Domínio alteroso, que dois mundos concebeu,
Ele guarda os cumes daquilo que há de ser teu –.

Nossas dores, amarga e surda, conciliadas
Num distinto arrabil então foram cantadas
E o seu som, tendo-o ouvido, fez se contorcer
O suserano, como um bode apunhalado.
De feridas, mofo e lama fiz nascer
A beleza esquiva e o valor incriado.
O chicote aturado soergue-se em palavras
Para vir libertar, algoz clemente,
Dos nossos crimes a cria vivente.
E, perfilando-se, os ramos lúgubres
Vão-se erguendo da floresta fúnebre
E culminam em luz, qual cacho de tumores,
No fruto de todos os séculos de dores.

Deitada preguiçosamente no divã
A menina sofre lendo o livro com afã.
A letra de fogo e a letra forjada – vê! –
No livro, em pares, ei-las portanto casadas,
Como o ferro quente nas pinças abraçadas.
O vassalo o escreveu, o Senhor o lê,
Sem saber que em suas grotas abissais
Jaz a loucura dos meus ancestrais.

Referência:

ARGHEZI, Tudor. Testament / Testamento. Tradução de Raul Passos. In: PASSOS, Raul. Testament și alte poezii / Testamento e outros poemas. (n.t.) Revista Literária em Tradução. Florianópolis, SC. Edição bilíngue semestral, ano 4, n. 7, set. 2013. Em romeno: p. 128-129; em português: p. 134-135. Disponível neste endereço. Acesso em: 20 nov. 2017.

4 comentários:

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