Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 4 de novembro de 2017

César Vallejo - E se depois de tantas palavras...

Um poema permeado pelo apego ao fim de tudo, naquilo que o poeta pressente o desaparecimento do ser humano sobre a terra – e se tal é o que de fato tende a acontecer, que ocorra de pronto, sem agonias, sem protelações.

O enternecimento pela perda das coisas, que nos alcançam e indefectivelmente passam, nos faz ainda mais presos à vida, esperançosos de que aquilo a nos rodear persista na estabilidade – a despeito de o poeta bem perceber o avultado poder de destruição que há no agir humano!

J.A.R. – H.C.

César Vallejo
 (1892-1938) 

¡Y si después de tantas palabras...

¡Y si después de tantas palabras,
no sobrevive la palabra!
¡Si después de las alas de los pájaros,
no sobrevive el pájaro parado!
¡Más valdría, en verdad,
que se lo coman todo y acabemos!

¡Haber nacido para vivir de nuestra muerte!
¡Levantarse del cielo hacia la tierra
por sus propios desastres
y espiar el momento de apagar con su sombra
su tiniebla!
¡Más valdría, francamente,
que se lo coman todo y qué más da...!

¡Y si después de tanta historia, sucumbimos,
no ya de eternidad,
sino de esas cosas sencillas, como estar
en la casa o ponerse a cavilar!
¡Y si luego encontramos,
de buenas a primeras, que vivimos,
a juzgar por la altura de los astros,
por el peine y las manchas del pañuelo!
¡Más valdría, en verdad,
que se lo coman todo, desde luego!

Se dirá que tenemos
en uno de los ojos mucha pena
y también en el otro, mucha pena
y en los dos, cuando miran, mucha pena...
Entonces... ¡Claro!... Entonces... ¡ni palabra!

Vigilante Noturno
(Afro Basaldella: pintor italiano)

E se depois de tantas palavras...

E se depois de tantas palavras,
não sobrevive a palavra!
Se depois das asas dos pássaros,
não sobrevive o pássaro parado!
Mais valeria, na verdade,
que comam tudo e acabemos!

Ter nascido para viver da nossa morte!
Levantar-se do céu rumo à terra
por seus próprios desastres
e espiar o momento de apagar com a sua
sombra as suas trevas!
Mais valeria, francamente,
que comam tudo e tanto faz!...

E se depois de tanta história, sucumbimos,
não já de eternidade,
mas dessas coisas simples, como estar
em casa ou pôr-se a matutar!
E se em seguida descobrimos,
subitamente, que vivemos,
a avaliar pela altura dos astros,
pelo pente e as nódoas do lenço!
Mais valeria, na verdade,
que comam tudo, sem dúvida!

Dir-se-á que temos
num dos olhos muita pena
e também no outro muita pena
e nos dois, quando olham, muita pena...
Então... Claro!... Então... nem uma só palavra!

Referências:

Em Espanhol

VALLEJO, César. ¡Y si después de tantas palabras... In: __________. César Vallejo: obra poética completa. Edición con facsímiles. 1. ed. numerada. Lima, PE: Francisco Moncloa Editores, jul. 1968. p. 371. (Colección Piedra Negra sobre una Piedra Branca)

Em Português

VALLEJO, César. E se depois de tantas palavras... Tradução de José Bento. In: __________. César Vallejo: antologia. Seção “Poemas Humanos”. Selecção, tradução e prólogo de José Bento. 1. ed. Porto, PT: Editora Limiar, nov. 1981. p. 68. (Colecção ‘Os Olhos e a Memória; n. 16)

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