Um poema permeado pelo apego ao fim de tudo, naquilo que o poeta
pressente o desaparecimento do ser humano sobre a terra – e se tal é o que de
fato tende a acontecer, que ocorra de pronto, sem agonias, sem protelações.
O enternecimento pela perda das coisas, que nos alcançam e
indefectivelmente passam, nos faz ainda mais presos à vida, esperançosos de que
aquilo a nos rodear persista na estabilidade – a despeito de o poeta bem
perceber o avultado poder de destruição que há no agir humano!
J.A.R. – H.C.
César Vallejo
(1892-1938)
¡Y si después de
tantas palabras...
¡Y si después de
tantas palabras,
no sobrevive la
palabra!
¡Si después de las
alas de los pájaros,
no sobrevive el
pájaro parado!
¡Más valdría, en
verdad,
que se lo coman todo
y acabemos!
¡Haber nacido para
vivir de nuestra muerte!
¡Levantarse del cielo
hacia la tierra
por sus propios desastres
y espiar el momento
de apagar con su sombra
su tiniebla!
¡Más valdría,
francamente,
que se lo coman todo
y qué más da...!
¡Y si después de tanta
historia, sucumbimos,
no ya de eternidad,
sino de esas cosas
sencillas, como estar
en la casa o ponerse
a cavilar!
¡Y si luego
encontramos,
de buenas a primeras,
que vivimos,
a juzgar por la
altura de los astros,
por el peine y las
manchas del pañuelo!
¡Más valdría, en
verdad,
que se lo coman todo,
desde luego!
Se dirá que tenemos
en uno de los ojos
mucha pena
y también en el otro,
mucha pena
y en los dos, cuando
miran, mucha pena...
Entonces... ¡Claro!... Entonces...
¡ni palabra!
Vigilante Noturno
(Afro Basaldella:
pintor italiano)
E se depois de tantas palavras...
E se depois de tantas
palavras,
não sobrevive a
palavra!
Se depois das asas
dos pássaros,
não sobrevive o
pássaro parado!
Mais valeria, na verdade,
que comam tudo e acabemos!
Ter nascido para
viver da nossa morte!
Levantar-se do céu rumo à terra
por seus próprios
desastres
e espiar o momento de
apagar com a sua
sombra as suas trevas!
Mais valeria,
francamente,
que comam tudo e tanto faz!...
E se depois de tanta
história, sucumbimos,
não já de eternidade,
mas dessas coisas
simples, como estar
em casa ou pôr-se a matutar!
E se em seguida descobrimos,
subitamente, que vivemos,
a avaliar pela altura
dos astros,
pelo pente e as nódoas do lenço!
Mais valeria, na verdade,
que comam tudo, sem dúvida!
Dir-se-á que temos
num dos olhos muita
pena
e também no outro
muita pena
e nos dois, quando
olham, muita pena...
Então... Claro!...
Então... nem uma só palavra!
Referências:
Em Espanhol
VALLEJO, César. ¡Y si después de tantas palabras... In: __________. César Vallejo: obra poética completa. Edición con facsímiles. 1.
ed. numerada. Lima, PE: Francisco Moncloa Editores, jul. 1968. p. 371. (Colección ‘Piedra Negra sobre una Piedra Branca’)
Em Português
VALLEJO, César. E se depois de tantas
palavras... Tradução de José Bento. In: __________. César Vallejo: antologia. Seção “Poemas Humanos”. Selecção,
tradução e prólogo de José Bento. 1. ed. Porto, PT: Editora Limiar, nov. 1981.
p. 68. (Colecção ‘Os Olhos e a Memória’; n. 16)
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