Gatos e ratos atormentam o sono da duquesa, enquanto esta segue em sua
via láctea de sonhos: tudo são impressões que mal lhe chegam à consciência,
como espasmos numa tela a apenas sugerir representações de ocorrências naturais,
das quais o poeta arrebata as metáforas necessárias.
No poema, percebe-se o contraste deliberadamente concebido entre o tom cinzento
das trevas noturnas, em que imersos estão os bichos e a duquesa, e a alusão ao
tom níveo dos gatos – absortos, lentos – como uma trilha de neve, a evocar uma caravana
de mercadores rumo ao Oriente.
J.A.R. – H.C.
Rafael Méndez Dorich
(1903-1973)
Los gatos blancos de la duquesa
Los gatos blancos de
la duquesa
ensimismados de luna
ausente
hacen ovillos con las
tanagras de porcelana.
Por las ventanas, abiertas
siempre,
que, manoteando, cierra
la noche muerta de fiestas,
como espirales de
humo cansado
se van filtrando,
perseguidores de su silencio,
largos y en fila, en
vía láctea
para los sueños de la
duquesa.
Los roedores de la mañana,
como taladros fosforescentes,
se esconden bajo los
suaves párpados de la duquesa
y, sigilosos, van
horadando
el noble pecho de la
durmiente.
Los gatos blancos arañan,
locos, la sombra densa
y rasgan todos los
estertores de la tiniebla
y, poco a poco, se
van abriendo
los suaves párpados de
la duquesa.
Y luego, lentos, como
camellos
en caravana de
mercaderes, hacia el Oriente,
siempre en hilera,
meditabundos,
como una huella larga
de nieve
se van pausados los
gatos blancos de la duquesa...
Gatos e Filhotes
(Henriette
Ronner-Knip: pintora holandesa)
Os gatos brancos da duquesa
Os gatos brancos da
duquesa
ensimesmados pela
ausência da lua
enovelam-se nas tânagras
de porcelana.
Pelas janelas, sempre
abertas,
que a noite fecha a
bracejar, exausta de festas,
vão-se filtrando,
como espirais de fumo cansado,
perseguidores de seu
silêncio,
distendidos e em
fila, em via láctea,
rumo aos sonhos da
duquesa.
Os roedores da manhã,
como escavadores fosforescentes,
escondem-se sob as
suaves pálpebras da duquesa
e, furtivamente, vão
trespassando
o nobre peito da
dormente.
Enlouquecidos, os
gatos brancos arranham a sombra densa,
arrancando todos os
estertores da escuridão,
fazendo abrir aos poucos
as suaves pálpebras
da duquesa.
E então, lentamente,
como camelos
em caravana de
mercadores, até o Oriente,
sempre em fileira,
meditabundos,
como uma longa trilha
de neve,
seguem com vagar os
gatos brancos da duquesa...
Referência:
DORICH, Rafael Méndez. Los gatos
blancos de la duquesa. In: FITTS, Dudley (Selección y compilación / Editor). Antología de la poesía americana contemporánea
/ Anthology of contemporary
latin-american poetry. Bilingual Edition: Spanish / English. Norfolk, CT:
New Directions, 1947. p. 422.
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