Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Rafael Méndez Dorich - Os gatos brancos da duquesa

Gatos e ratos atormentam o sono da duquesa, enquanto esta segue em sua via láctea de sonhos: tudo são impressões que mal lhe chegam à consciência, como espasmos numa tela a apenas sugerir representações de ocorrências naturais, das quais o poeta arrebata as metáforas necessárias.

No poema, percebe-se o contraste deliberadamente concebido entre o tom cinzento das trevas noturnas, em que imersos estão os bichos e a duquesa, e a alusão ao tom níveo dos gatos – absortos, lentos – como uma trilha de neve, a evocar uma caravana de mercadores rumo ao Oriente.

J.A.R. – H.C.

Rafael Méndez Dorich
(1903-1973)

Los gatos blancos de la duquesa

Los gatos blancos de la duquesa
ensimismados de luna ausente
hacen ovillos con las tanagras de porcelana.
Por las ventanas, abiertas siempre,
que, manoteando, cierra la noche muerta de fiestas,
como espirales de humo cansado
se van filtrando, perseguidores de su silencio,
largos y en fila, en vía láctea
para los sueños de la duquesa.
Los roedores de la mañana, como taladros fosforescentes,
se esconden bajo los suaves párpados de la duquesa
y, sigilosos, van horadando
el noble pecho de la durmiente.
Los gatos blancos arañan, locos, la sombra densa
y rasgan todos los estertores de la tiniebla
y, poco a poco, se van abriendo
los suaves párpados de la duquesa.
Y luego, lentos, como camellos
en caravana de mercaderes, hacia el Oriente,
siempre en hilera, meditabundos,
como una huella larga de nieve
se van pausados los gatos blancos de la duquesa...

Gatos e Filhotes
(Henriette Ronner-Knip: pintora holandesa)

Os gatos brancos da duquesa

Os gatos brancos da duquesa
ensimesmados pela ausência da lua
enovelam-se nas tânagras de porcelana.
Pelas janelas, sempre abertas,
que a noite fecha a bracejar, exausta de festas,
vão-se filtrando, como espirais de fumo cansado,
perseguidores de seu silêncio,
distendidos e em fila, em via láctea,
rumo aos sonhos da duquesa.
Os roedores da manhã, como escavadores fosforescentes,
escondem-se sob as suaves pálpebras da duquesa
e, furtivamente, vão trespassando
o nobre peito da dormente.
Enlouquecidos, os gatos brancos arranham a sombra densa,
arrancando todos os estertores da escuridão,
fazendo abrir aos poucos
as suaves pálpebras da duquesa.
E então, lentamente, como camelos
em caravana de mercadores, até o Oriente,
sempre em fileira, meditabundos,
como uma longa trilha de neve,
seguem com vagar os gatos brancos da duquesa...

Referência:

DORICH, Rafael Méndez. Los gatos blancos de la duquesa. In: FITTS, Dudley (Selección y compilación / Editor). Antología de la poesía americana contemporánea / Anthology of contemporary latin-american poetry. Bilingual Edition: Spanish / English. Norfolk, CT: New Directions, 1947. p. 422.
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