Este poema do poeta espanhol mostra-se suficientemente autoexplicativo. Ademais, já lá se vão tantas postagens dedicadas a tornar explícita a tese de que
depois que o autor leva a sua obra ao prelo e, daí, ao público, esta já não lhe
pertence.
Todas as interpretações serão possíveis, pois estamos, no caso,
adentrando o universo da literatura, mesmo que, a rigor, alguns interditos se
imponham aos leitores, no mais das vezes, provenientes de conexões lógicas ou de
confrontos com a realidade física.
Mas... e então?! As obras surrealistas – como a pintura que ilustra esta
postagem – não estariam no domínio da arte?! Ao ser ficcional se impõem
vedações a tornar explícito o universo não racional do inconsciente?! Claro que
não – e desse modo temos essa panóplia exuberante de obras que se autodenominam
“pós-modernistas”... Fazer o quê?!
J.A.R. – H.C.
José Agustín Goytisolo
(1928-1999)
Una Revelación
Todo lo que he
sentido: todo
lo que cantaste con
palabras
si son sólo emociones
tuyas
– vivencias tuyas –
poco importan.
Porque deseos y
esperanzas
y mal de amor y
sufrimiento
los tienen muchos.
Mas si cuentas
algo que pueda
despertar
una emoción dormida
en otro
– una revelación
entre las líneas –
el poema termina ahí
en el pecho
sobresaltado
que lo repite y hace
suyo
hasta olvidar quién
lo escribiera.
Entre el poema y el
autor
la primacía es del
poema.
En: “Como los trenes de la noche” (1994)
Cartas para a Europa
(Rafał Olbiński: pintor polonês)
Uma Revelação
Tudo o que tenho
sentido: tudo
o que cantaste com
palavras
se são só as tuas emoções
– vivências tuas –
pouco importam.
Porque desejos e
esperanças
e mal de amor e
sofrimentos
muitos os têm. Mas se
contas
algo que possa despertar
uma emoção adormecida
no outro
– uma revelação entre
as linhas –
aí termina o poema
no peito
sobressaltado
que o repete e o faz seu
até esquecer quem o
escrevera.
Entre o poema e o
autor
a primazia é do
poema.
Em: “Como os trens da noite” (1994)
Referência:
GOYTISOLO, José Agustín. Una revelación.
In: CASANOVA, José Francisco Ruiz (Selección y introducción). Antología cátedra de poesía de las letras hispánicas.
11. ed. Madrid, ES: Ediciones Cátedra (Grupo Anaya S.A.), 2014. p. 1050.
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