O poeta deplora o fato de uma dama de programa haver levado alguns de
seus poemas – uma dúzia ao todo –, e afirma que teria sido melhor, como fazem
todas as outras, que lhe houvesse surrupiado dinheiro de sua carteira ou alguma
parte do seu corpo.
Nesse sentido, imagina-se que ela fosse sua fã – além, obviamente, de
uma simples “profissional do sexo” –, embora não soubesse que lhe estivesse
suprimindo parte de sua inspiração, de sua alma, de seus sentimentos, de sua
história. Mas, ora ora, do fato acabou resultando material para a escrita de um
outro poema, vale dizer, exatamente deste!
J.A.R. – H.C.
Charles Bukowski
(1920-1994)
to the whore who took my poems
some say we should
keep personal remorse from the
poem,
stay abstract, and
there is some reason in this,
but jezus;
twelve poems gone and
I don’t keep carbons and you have
my
paintings too, my
best ones; it’s stifling:
are you trying to
crush me out like the rest of them?
why didn’t you take
my money? they usually do
from the sleeping
drunken pants sick in the corner.
next time take my
left arm or a fifty
but not my poems;
I’m not Shakespeare
but sometime simply
there won’t be any
more, abstract or otherwise;
there’ll always be
money and whores and drunkards
down to the last
bomb,
but as God said,
crossing his legs,
I see where I have
made plenty of poets
but not so very much
poetry.
Autorretrato com Saskia
na Parábola do Filho Pródigo
(Rembrandt: pintor
holandês)
para a puta que levou meus poemas
alguns dizem que
deveríamos evitar remorsos
particulares no
poema,
manter-nos abstratos,
e há certa razão nisso,
mas jezus;
lá se vão doze poemas
e eu não tenho cópias deles em
carbono e você está
com
minhas
pinturas também, as
melhores; é sufocante:
quer me destruir como
fez com todos os outros?
por que não leva meu
dinheiro? é o que normalmente
fazem com
os bêbados
desacordados na esquina de quem batem
os bolsos das calças.
da próxima vez leve
meu braço esquerdo ou cinquenta
contos
mas não meus poemas:
eu não sou
Shakespeare
mas vai chegar um
tempo em que simplesmente
não haverá mais
nenhum, abstrato ou como quer que
seja;
sempre haverá
dinheiro e putas e bêbados
até a última bomba
cair,
mas como Deus disse,
cruzando as pernas,
sei muito bem onde
coloquei um bocado de poetas
mas não muita
poesia.
Referências:
Em Inglês
BUKOWSKI, Charles. to the whore who
took my poems. In: __________. Burning
in water, drowing in flame. Santa Barbara, CA: Black Sparrow Press, 1974. p. 16.
Em Português
BUKOWSKI, Charles. para a puta que
levou meus poemas. Tradução de Pedro Gonzaga. In: __________. Queimando na água, afogando-se na chama.
1. ed. Porto Alegre, RS: L&PM, 2016. p. 22. (Coleção ‘L&PM Pocket’; v.
1211)
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