Levamos a vida sem perceber que o nosso batel, por vezes, pouco avança
em vista de impedimentos subterrâneos, difíceis de serem compreendidos pela
mente consciente. E à nova situação nos acomodamos, sem que tenhamos produzido
a síntese evolutiva indispensável.
Somos muitos, heteronimamente pessoanos, e amiúde esquecemo-nos de
integrar os vultos em que nos dividimos para seguir em frente, à vista dos
compromissos que a sociedade nos impõe. E disso decorre a dificuldade em se cumprir
a máxima socrática: “Conhece-te a ti mesmo”. Suma: eis aí o substrato do ser – essa imprecisa e contingente materialização da vontade!
J.A.R. – H.C.
Juan Ramón Jiménez
(1881-1958)
Mares
Siento que el barco
mío
ha tropezado, allá en
el fondo,
com algo grande.
İY nada
sucede! Nada...
Quietud... Olas...
– Nada sucede; o es
que ha sucedido todo,
y estamos ya,
tranquilos, en lo novo?
Mares
Sinto que o meu barco
tropeçou, ali no
fundo,
com algo grande.
E nada
ocorre! Nada...
Quietude... Ondas...
– Nada ocorre; ou é
que tudo ocorreu,
e já estamos,
tranquilos, no novo?
Impressão: sol nascente
(Claude Monet: pintor
francês)
Yo no soy yo
Yo no soy yo.
Soy este
que va a mi lado sin
yo verlo;
que, a veces, voy a
ver,
y que, a veces,
olvido.
El que calla, sereno,
cuando hablo,
el que perdona,
dulce, cuando odio,
el que pasea por
donde no estoy,
el que quedará en pie
cuando yo muera.
Eu não sou eu
Eu não sou eu.
Sou este
a andar ao meu lado
sem que o veja;
a quem, por vezes, visito,
e de quem, outras
tantas, me esqueço.
O que cala, sereno,
quando falo,
o que perdoa, amável,
quando odeio,
o que passeia por
onde não estou,
o que se manterá em
pé quando eu morrer.
O Significado da Noite
(René Magritte:
artista belga)
Referências:
JIMÉNEZ, Juan Ramón. Mares. In:
__________. Segunda antología poética:
1898-1918. Nostalgia del mar. Madrid, ES: Espasa Calpe, 1998. p. 371.
JIMÉNEZ, Juan Ramón. Yo no soy yo. In:
__________. Eternidades: verso
(1916-1917). 1. ed. Madrid, ES: Tip.-Lit. A. de Angel Alcoy (S. en C.), 1918. p.
155.
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