O poeta costuma lembrar-se das circunstâncias que levaram à escrita de
seus poemas. Mas de um, em particular, apenas se recorda de o ter concebido mentalmente
quando descia uma rua entre o Sena e um hospital, em Paris, enquanto caminhava
em silêncio.
Como se nota, o poema revela o modo como os poetas costumam arquitetar
os seus versos, muitas das vezes como consectários de simples casualidades, quando
uma ideia surge inopinadamente, em qualquer lugar em que se encontrem, seja num
deserto – quando haverá de empreender um considerável salto de imaginação! –
seja em França – quando a tarefa possivelmente será muito menos complicada...
J.A.R. – H.C.
Jacques Roubaud
(n. 1932)
Parmi beaucoup de poèmes
Parmi beaucoup de
poèmes
Il y en avait un
Dont je ne parvenais
pas à me souvenir
Sinon que je l’avais
composé
Autrefois
En descendant cette
rue
Du côté des numéros
pairs de cette rue
Baignée d’une matinée
limpide
Une rue de petites
boutiques persistantes
Entre la Seine
sinistrée et l’hôpital
Un poème écrit avec
mes pieds
Comme je compose
toujours les poèmes
En silence et dans ma
tête et en marchant
Mais je ne me
souviens de rien
Que de la rue de la
lumière et du hasard
Qui avait fait entrer
dans ce poème
Le mot “respect”
Que je n’ai pas l’habitude
de faire vibrer
Dans les pages
mentales de la poésie
Au-delà de lui il n’y
a rien
Et ce mot ce mot qui
ne bouge pas
Atteste la cessation
de la rue
Comme un arbre oublié
de l’espace
Caminhando no Maine
(Shana R. Jackson:
pintora norte-americana)
Entre muitos poemas
Entre muitos poemas
Havia um
Do qual não conseguia
me lembrar
Exceto de que o havia
redigido
Há muito tempo
Enquanto caminhava
por esta rua
Do lado em que os
imóveis têm números pares
Banhado por uma
límpida manhã
Uma rua de pequenas
lojas persistentes
Entre o Sena
sinistrado e o hospital
Um poema escrito com
os meus pés
Como sempre componho os
meus poemas
Em silêncio,
mentalmente e a caminhar
Mas não me recordo de
nada
A não ser da rua da
luz e do acaso
Que levou a entrar em
tal poema
A palavra “respeito”
Que não costumo fazer
vibrar
Nas páginas mentais
de poesia
Mais além dela nada
há
E essa palavra essa
palavra que não se move
Anuncia o final da
rua
Como uma árvore
esquecida do espaço
Referência:
ROUBAUD, Jacques. Parmi beaucoup de
poèmes. In: ZURGAI. Poesía francesa –
Poésie française. Edición bilingüe: francés y español. Cuaderno central: selección; Bilbao, ES.; dec. 2005, p.
76. Disponível neste endereço.
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