Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Carson McCullers - Escritora Norte-Americana

 
Columbus - Geórgia (EUA)

“Nossa missão é atravessar com força e dignidade os dias da nossa humilhação. Nosso orgulho tem que ser firme, pois sabemos o valor da mente e da alma humana. Temos que ensinar nossas crianças. Temos que nos sacrificar para que elas possam conquistar a dignidade do estudo e do conhecimento. Porque vai chegar o dia. Vai chegar o dia em que as riquezas que existem em nós não serão mais encaradas com escárnio e com desprezo. Vai chegar o dia em que vamos poder servir de fato. Em que vamos trabalhar e o nosso trabalho não será desperdiçado. E a nossa missão é esperar por esse dia com força e fé”. (McCULLERS, 2007, p. 246)

A citação acima, extraída da Parte 2 do Capítulo 6 do livro em referência, traduz o discurso que o Dr. Copeland, um personagem negro, faz em sua festa de Natal. Pleno de sabedoria, ele tenta transmitir, às pessoas de seu povo, conselhos e coragem para avançar na luta cotidiana.

Carson McCullers
(1917-1967)

Apreciação de Karl Heinz Petzler para
“O coração é um caçador solitário”
(“The heart is a lonely hunter”)
(PETZLER, 2007, p. 411)

O seu primeiro romance tornou Carson McCullers numa sensação literária, com apenas 23 anos. Dotado de um profundo sentido de isolamento moral e com um compadecido olhar pela vida interior dos seus personagens, Coração Solitário Caçador é considerado não só a sua obra-prima como um marco da literatura do século XX.
Situado numa deprimente vila na Geórgia dos anos 30, o cenário pode parecer provinciano, mas o seu cosmos é universal e eterno. No centro da narrativa está o surdo-mudo John Singer, que se torna confidente de alguns marginalizados, cada um dos quais – preocupado com o seu lugar no mundo – anseia escapar das circunstâncias à sua maneira: Mick Kelly, uma adolescente cuja ambição íntima é compor sinfonias, é filha de proprietários da pensão, onde Singer vive depois do seu melhor amigo ter ficado demente; Jack Blount, um alcoólico por vezes violento, obstinado com as suas ideias socialistas frustradas; Dr. Copeland, um médico negro que luta, em vão, pela causa da igualdade racial e Biff Brannon, o proprietário de uma cafeteria com desejos sexuais ambíguos. Cada um deles acha que o surdo-mudo Singer os compreende e estima. Ironicamente este, também algo obcecado por uma amizade de reciprocidade questionável, suicida-se após a morte do seu amigo enlouquecido.
Conjugando o isolamento espiritual inerente à condição humana com uma hábil compreensão das tensões raciais no Sul dos EUA, McCullers tece uma história inesquecível, dando voz aos rejeitados, esquecidos e maltratados – e, através de Mick, à serena e intensamente pessoal busca por beleza. Coração Solitário Caçador ainda hoje continua a ser uma obra literária incontornável, tão oportuna e poderosa como na altura de sua publicação.

Avaliação da obra pelo bloguinho (0-10): 8,5.

Obs.: Há uma adaptação cinematográfica, de 1968, intitulada no Brasil como “Por que tem que ser assim?”, dirigida por Robert Ellis Miller, apenas razoável quando em cotejo com a obra que lhe deu origem.

J.A.R.  H.C.


Referências:

PETZLER, Karl Heinz. Coração solitário caçador. In: BOXALL, Peter (ed.). 1001 livros para ler antes de morrer. Tradução de Manuela Brazão et al. Editor da edição portuguesa Karl Heinz Petzler. Lisboa, PT: Lisma, 2007. p. 411.

McCULLERS, Carson. O coração é um caçador solitário. Tradução de Sonia Moreira. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2007.

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