Plenos de fantasias oriundas do labiríntico reino das palavras, estes
excertos, de um longo poema do poeta goiano Mendonça Teles, arrebata o leitor
com as sua escrita sugestiva e, ao mesmo tempo, precisa.
Um cristal sob a forma de poema, do qual emanam raios capazes de
arrebatar aqueles que se deixam encantar pela beleza da linguagem, fruto
imediato vertido em seus canteiros!
J.A.R. – H.C.
Gilberto Mendonça Teles
(n. 1931)
Poética
(Fragmentos)
A José Fernandes
1. Tudo em mim é desejo de linguagem:
minha própria emoção, esta passagem
à espessura das coisas, este convite
ao mais além da sombra e do limite
e esta confirmação da realidade
na plumagem dos nomes, na verdade,
não têm lado e segredo, é pura essência
do que se fez silêncio e reticência.
3. Ponte entre o amor e o coração, avena
a se escutar assim, vazia e plena
no verso da conversa ao pé do ouvido,
a criação se dá quando o perdido
se transforma em sinal que alguém atende,
alguma boa fada, algum duende,
uma força maior que nos excita
a deixar logo alguma coisa escrita.
7. Eu sei que a poesia é um vento escuro
e belo, com seu risco e seu futuro,
água de rio abaixo, repartida
entre o fluir e a margem, entre a vida
e o que ficou de lado, bem no fundo
de sua própria história e de seu mundo,
matéria intransitiva, força alada
de luz abrindo o azul da madrugada.
10. O difícil não é o surpreendê-la
nos reflexos dourados de uma estrela
ou nos cornos da lua, no oceano,
mas na exata nudez do ser humano,
na expressão do inefável, do confuso,
na recusa de tudo que recuso
para fruir o aroma da alfazema
nos canteiros mais simples do poema.
Princesa Amazona
(Josephine Wall:
pintora inglesa)
Referência:
TELES, Gilberto Mendonça. Poética
(fragmentos). In: __________. Melhores
poemas de Gilberto Mendonça Teles. Seleção de Luiz Busatto. 4. ed. São
Paulo, SP: Global, 2007. p. 243-244. (Coleção ‘Melhores Poemas’)
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