Em sua concepção de arte poética, o poeta paulistano recorre à própria
poesia, nas figuras de Yeats e Pessoa, para encetar o conceito que lhe parece
mais pertinente para a elipse, figura alocada de modo a limitar ou conter o
transbordamento do que efetivamente se há de expressar em palavras.
Elipse num serial de círculos concêntricos, ordenados e degradados; dupla
hélice em que se encerra o eterno retorno daquilo que é variável, haja vista a
dificuldade de se pôr em palavras o objeto mesmo tratado pela poesia: a poesia
assim consiste em dizer muito em poucas palavras. Ou ainda, se não forem
poucas, pelo menos que sejam precisas!
J.A.R. – H.C.
Apreciação da obra do autor por
Manuel da Costa Pinto
(PINTO, 2006, p.
148-149)
Poeta e editor da revista Azougue, Cohn é um autor que explicita,
por meio de citações e homenagens, sua “dívida” em relação a escritores de
extração surrealista (desde pioneiros modernistas como Breton e Artaud, até
brasileiros contemporâneos como Cláudio Willer, Rodrigo de Haro e Afonso
Henriques Neto). A tônica dominante de sua poesia é a tentativa de alargamento
do campo do possível por meio de estados de consciência visionários – expresso
em “Duelo” pela alternância entre a representação (mímese) e a transformação do existente (daí a referencia a Proteu,
figura mitológica que se metamorfoseia em diferentes figuras). Mas a evocação de
êxtases e de iluminações oraculares não é alheia a uma ideia de economia antirretórica
característica de boa parte do modernismo brasileiro, resultando numa “Ars
Poetica” que faz da elipse e da contenção um valor estético que disciplina o transbordamento
da expressão.
Principais Obras: Lábio dos Afogados (Nankin, 1999), Horizonte de Eventos (Azougue, 2002), O Sonhador Insone (Azougue, 2006).
Sergio Cohn
(n. 1974)
Ars Poetica
Uma elipse
é um serial de
círculos
concêntricos
com ou sem
projeção de tamanho
onde Yeats viu
ordem e degradação
a dupla hélice
o eterno variável
retorno
e Pessoa disse
ser o objeto mais
difícil
de pôr em palavras
(sendo que conhecia
muito bem
elipses e palavras)
Uma elipse é o modo
em que vejo os mais
belos
poemas aparecerem
num quase transbordar
e uma contenção
que foge à primeira
vista.
Em: “Horizonte de Eventos” (2002)
Alegoria da Poesia
(Eustache Le Sueur:
pintor francês)
Referência:
COHN, Sérgio. Ars poetica. In: PINTO,
Manuel da Costa (ed.). Antologia
comentada da poesia brasileira do século 21. São Paulo, SP: Publifolha,
2006. p. 147-148.
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