Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Sergio Cohn - Ars Poetica

Em sua concepção de arte poética, o poeta paulistano recorre à própria poesia, nas figuras de Yeats e Pessoa, para encetar o conceito que lhe parece mais pertinente para a elipse, figura alocada de modo a limitar ou conter o transbordamento do que efetivamente se há de expressar em palavras.

Elipse num serial de círculos concêntricos, ordenados e degradados; dupla hélice em que se encerra o eterno retorno daquilo que é variável, haja vista a dificuldade de se pôr em palavras o objeto mesmo tratado pela poesia: a poesia assim consiste em dizer muito em poucas palavras. Ou ainda, se não forem poucas, pelo menos que sejam precisas!

J.A.R. – H.C.

Apreciação da obra do autor por
Manuel da Costa Pinto
(PINTO, 2006, p. 148-149)

Poeta e editor da revista Azougue, Cohn é um autor que explicita, por meio de citações e homenagens, sua “dívida” em relação a escritores de extração surrealista (desde pioneiros modernistas como Breton e Artaud, até brasileiros contemporâneos como Cláudio Willer, Rodrigo de Haro e Afonso Henriques Neto). A tônica dominante de sua poesia é a tentativa de alargamento do campo do possível por meio de estados de consciência visionários – expresso em “Duelo” pela alternância entre a representação (mímese) e a transformação do existente (daí a referencia a Proteu, figura mitológica que se metamorfoseia em diferentes figuras). Mas a evocação de êxtases e de iluminações oraculares não é alheia a uma ideia de economia antirretórica característica de boa parte do modernismo brasileiro, resultando numa “Ars Poetica” que faz da elipse e da contenção um valor estético que disciplina o transbordamento da expressão.
Principais Obras: Lábio dos Afogados (Nankin, 1999), Horizonte de Eventos (Azougue, 2002), O Sonhador Insone (Azougue, 2006).

Sergio Cohn
(n. 1974)

Ars Poetica

Uma elipse
é um serial de círculos
concêntricos
com ou sem
projeção de tamanho
onde Yeats viu
ordem e degradação

a dupla hélice
o eterno variável retorno
e Pessoa disse
ser o objeto mais difícil
de pôr em palavras
(sendo que conhecia muito bem
elipses e palavras)

Uma elipse é o modo
em que vejo os mais belos
poemas aparecerem
num quase transbordar
e uma contenção
que foge à primeira vista.

Em: “Horizonte de Eventos” (2002)

Alegoria da Poesia
(Eustache Le Sueur: pintor francês)

Referência:

COHN, Sérgio. Ars poetica. In: PINTO, Manuel da Costa (ed.). Antologia comentada da poesia brasileira do século 21. São Paulo, SP: Publifolha, 2006. p. 147-148.

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