Drummond não se deixa seduzir pelos brinquedos que a indústria coloca no
mercado a cada ano, talvez porque lhes falte o poder para incutir-lhe estados
de ânimo mais leves, muito próprios aos infantes.
Algo “fácil, fluido, pétala”, o brinquedo do poeta assoma-lhe
autonomamente, privativamente, percorrendo-lhe o íntimo, até que venha a se
expressar sob a forma de palavras, poemas, poesia.
J.A.R. – H.C.
Carlos Drummond de Andrade
(1902-1987)
Brinquedo para homens
(ANDRADE, 1987, p.
137)
Embora eu seja
adulto,
não me seduzem os
brinquedos eletrônicos
que a moda, irônica,
me oferece.
E excogito:
Que brinquedo
inventar para o adulto,
privativo dele,
sangue e riso dele,
brinquedo desenganado
mas eficiente?
Tenho de inventar o
meu brinquedo,
mola saltando no meu
íntimo,
alegria gerada por
mim mesmo,
e fácil, fluida, pluma,
pétala.
Sem o pedir às
máquinas e aos deuses,
que cada um invente o
seu brinquedo.
[28-6-1980]
Em: “Alegrias e penas por aí”
Brinquedo Brilhante
(Kyle Lambert:
artista britânico)
Referência:
ANDRADE, Carlos Drummond de. Amar se aprende amando. São Paulo, SP:
Círculo do Livro, 1987.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário