Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Carlos Drummond de Andrade - Brinquedo para homens

Drummond não se deixa seduzir pelos brinquedos que a indústria coloca no mercado a cada ano, talvez porque lhes falte o poder para incutir-lhe estados de ânimo mais leves, muito próprios aos infantes.

Algo “fácil, fluido, pétala”, o brinquedo do poeta assoma-lhe autonomamente, privativamente, percorrendo-lhe o íntimo, até que venha a se expressar sob a forma de palavras, poemas, poesia.

J.A.R. – H.C.

Carlos Drummond de Andrade
(1902-1987)

Brinquedo para homens
(ANDRADE, 1987, p. 137)

Embora eu seja adulto,
não me seduzem os brinquedos eletrônicos
que a moda, irônica, me oferece.
E excogito:
Que brinquedo inventar para o adulto,
privativo dele, sangue e riso dele,
brinquedo desenganado mas eficiente?
Tenho de inventar o meu brinquedo,
mola saltando no meu íntimo,
alegria gerada por mim mesmo,
e fácil, fluida, pluma,
pétala.

Sem o pedir às máquinas e aos deuses,
que cada um invente o seu brinquedo.

[28-6-1980]
Em: “Alegrias e penas por aí”

Brinquedo Brilhante
(Kyle Lambert: artista britânico)

Referência:

ANDRADE, Carlos Drummond de. Amar se aprende amando. São Paulo, SP: Círculo do Livro, 1987.

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