Este poema do norte-americano Paul Hoover, com suave humor e ironia, zomba dos leitores quando ficam à cata de
algum sentido possível para os poemas que encontram, muito embora a poesia seja
capaz, de um modo ou de outro, de abarcar muito da complexidade da vida.
Hoover usa a sátira para pleitear aos poetas que não se imiscuam em
divagações incompreensíveis ou difíceis de decifrar: para tanto, emprega em seu
poema, deliberadamente, várias abstrações sem sentido ou, senão, com sentido
apenas para o próprio poeta. De que vale, então, um poema com tais
características? Parece cair no solipsismo... Hoover tem lá suas razões!
J.A.R. – H.C.
Paul Hoover
(n. 1946)
Poems We Can
Understand
If a monkey drives a car
down a colonnade facing the sea
and the palm trees to the left are tin
we don’t understand it.
We want poems we can understand.
We want a god to lead us,
renaming the flowers and trees,
color-coding the scene,
doing bird calls for guests.
We want poems we can understand,
no sullen drunks making passes
next to an armadillo, no complex nothingness
amounting to a song,
no running in and out of walls
on the dry tongue of a mouse,
no bludgeoness, no girl, no sea that moves
with all deliberate speed, beside itself
and blue as water, inside itself and still,
no lizards on the table becoming absolute hands.
We want poetry we can understand,
the fingerprints on mother’s dress,
pain of martyrs, scientists.
Please, no rabbit taking a rabbit
out of a yellow hat, no tattooed back
facing miles of desert, no wind.
We don’t understand
it.
(1983)
Diversão ao Sol (I)
(Alred Gockel: pintor
alemão)
Poemas que Possamos Compreender
Se um símio conduz um
automóvel
ao longo de uma
colunata frente ao mar
e as palmeiras à
esquerda são de estanho
nós não o
compreendemos.
Queremos poemas que
possamos compreender.
Queremos um deus para
nos conduzir,
renomeando as flores
e as árvores,
codificando a cena
com cores,
fazendo os pássaros
chamar pelos hóspedes.
Queremos poemas que
possamos compreender,
nada de ébrios
taciturnos fazendo passes
junto a um tatu, sem
nada complexo
que equivalha a uma
canção,
nada de correr por
dentro e por fora dos muros
sobre a língua seca
de um rato,
nenhuma coerção,
nenhuma garota, nem mar que se mova
com toda a sua
deliberada velocidade, ao seu próprio lado
e azul como a água,
dentro de si mesmo e quieto,
nenhuma lagartixa
sobre a mesa transformando-se em mãos absolutas.
Queremos poesia que
possamos compreender,
as impressões
digitais no vestido da mãe,
a dor dos mártires,
os cientistas.
Por favor, nenhum
coelho tirando outro coelho
de um chapéu amarelo,
nenhum dorso tatuado
frente a milhas de
deserto, nenhum vento.
Nos não o
compreendemos.
Referência:
HOOVER, Paul. Poems we can undestand. In: HOOVER, Paul (Ed.). A postmodern american poetry: a norton
anthology. New York, NY: W. W. Norton & Company Inc., 1994. p. 485-486.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário