Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Paul Hoover - Poemas que Possamos Compreender

Este poema do norte-americano Paul Hoover, com suave humor e ironia, zomba dos leitores quando ficam à cata de algum sentido possível para os poemas que encontram, muito embora a poesia seja capaz, de um modo ou de outro, de abarcar muito da complexidade da vida.

Hoover usa a sátira para pleitear aos poetas que não se imiscuam em divagações incompreensíveis ou difíceis de decifrar: para tanto, emprega em seu poema, deliberadamente, várias abstrações sem sentido ou, senão, com sentido apenas para o próprio poeta. De que vale, então, um poema com tais características? Parece cair no solipsismo... Hoover tem lá suas razões!

J.A.R. – H.C.

Paul Hoover
(n. 1946)

Poems We Can Understand

If a monkey drives a car
down a colonnade facing the sea
and the palm trees to the left are tin
we don’t understand it.

We want poems we can understand.
We want a god to lead us,
renaming the flowers and trees,
color-coding the scene,

doing bird calls for guests.
We want poems we can understand,
no sullen drunks making passes
next to an armadillo, no complex nothingness

amounting to a song,
no running in and out of walls
on the dry tongue of a mouse,
no bludgeoness, no girl, no sea that moves

with all deliberate speed, beside itself
and blue as water, inside itself and still,
no lizards on the table becoming absolute hands.
We want poetry we can understand,

the fingerprints on mother’s dress,
pain of martyrs, scientists.
Please, no rabbit taking a rabbit
out of a yellow hat, no tattooed back

facing miles of desert, no wind.
We don’t understand it.

(1983)

Diversão ao Sol (I)
(Alred Gockel: pintor alemão)

Poemas que Possamos Compreender

Se um símio conduz um automóvel
ao longo de uma colunata frente ao mar
e as palmeiras à esquerda são de estanho
nós não o compreendemos.

Queremos poemas que possamos compreender.
Queremos um deus para nos conduzir,
renomeando as flores e as árvores,
codificando a cena com cores,

fazendo os pássaros chamar pelos hóspedes.
Queremos poemas que possamos compreender,
nada de ébrios taciturnos fazendo passes
junto a um tatu, sem nada complexo

que equivalha a uma canção,
nada de correr por dentro e por fora dos muros
sobre a língua seca de um rato,
nenhuma coerção, nenhuma garota, nem mar que se mova

com toda a sua deliberada velocidade, ao seu próprio lado
e azul como a água, dentro de si mesmo e quieto,
nenhuma lagartixa sobre a mesa transformando-se em mãos absolutas.
Queremos poesia que possamos compreender,

as impressões digitais no vestido da mãe,
a dor dos mártires, os cientistas.
Por favor, nenhum coelho tirando outro coelho
de um chapéu amarelo, nenhum dorso tatuado

frente a milhas de deserto, nenhum vento.
Nos não o compreendemos.

Referência:

HOOVER, Paul. Poems we can undestand. In: HOOVER, Paul (Ed.). A postmodern american poetry: a norton anthology. New York, NY: W. W. Norton & Company Inc., 1994. p. 485-486.

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