Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

José Paulo Paes - Acima de qualquer suspeita

A despeito de assumir que a poesia esteja morta, o poeta bem que tentou ressuscitá-la pela via da réplica ou da imitação de outros grandes poetas, nacionais e estrangeiros. Mas não adiantou muito, segundo ele próprio...

Tentou, por fim, abraçar-se à causa de um alterego que se julgava também poeta. Mas tudo parece ter sido uma simples ilusão, e já nem o próprio J.P.P. reconhece haver existido: o poeta e o homem mais parecem miragem no refluxo do tempo!

J.A.R. – H.C.

José Paulo Paes
(1926-1998)

Acima de qualquer suspeita

a poesia está morta

mas juro que não fui eu

eu até que tentei fazer o melhor que podia para salvá-la

imitei diligentemente augusto dos anjos paulo torres carlos
drummond de andrade manuel bandeira murilo mendes
vladmir maiakóvski joão cabral de melo neto paul éluard
oswald de andrade guillaume appolinaire sosígenes costa
bertolt brecht augusto de campos

não adiantou nada

em desespero de causa cheguei a imitar um certo (ou incerto)
josé paulo paes poeta de ribeirãozinho estrada de ferro
araraquarense

porém ribeirãozinho mudou de nome a estrada de ferro
araraquarense foi extinta e josé paulo paes parece nunca ter
existido

nem eu

O Anjo da Morte
(Evelyn De Morgan: pintora inglesa)

Referência:

PAES, José Paulo. Acima de qualquer suspeita. In: ANDRADE, Carlos Drummond de et al. Verso livre: poemas. 1. ed. São Paulo, SP: Boa Companhia, 2012. p. 74-75.

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