A despeito de assumir que a poesia esteja morta, o poeta bem que tentou
ressuscitá-la pela via da réplica ou da imitação de outros grandes poetas,
nacionais e estrangeiros. Mas não adiantou muito, segundo ele próprio...
Tentou, por fim, abraçar-se à causa de um alterego que se julgava também
poeta. Mas tudo parece ter sido uma simples ilusão, e já nem o próprio J.P.P. reconhece
haver existido: o poeta e o homem mais parecem miragem no refluxo do tempo!
J.A.R. – H.C.
José Paulo Paes
(1926-1998)
Acima de qualquer suspeita
a poesia está morta
mas juro que não fui
eu
eu até que tentei
fazer o melhor que podia para salvá-la
imitei diligentemente
augusto dos anjos paulo torres carlos
drummond de andrade manuel bandeira murilo mendes
vladmir maiakóvski joão cabral de melo neto paul éluard
oswald de andrade guillaume appolinaire sosígenes costa
bertolt brecht augusto de campos
não adiantou nada
em desespero de causa
cheguei a imitar um certo (ou incerto)
josé paulo paes poeta de ribeirãozinho estrada de ferro
araraquarense
porém ribeirãozinho
mudou de nome a estrada de ferro
araraquarense foi extinta e josé paulo paes parece nunca ter
existido
nem eu
O Anjo da Morte
(Evelyn De Morgan:
pintora inglesa)
Referência:
PAES, José Paulo. Acima de qualquer
suspeita. In: ANDRADE, Carlos Drummond de et al. Verso livre: poemas. 1. ed. São Paulo, SP: Boa Companhia, 2012. p.
74-75.
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