Numa escrita bela e sumária, Bandeira propõe um derradeiro poema, com intenções
ou propósitos a se alinharem às últimas experiências passíveis de serem
auferidas no intercurso de uma vida humana.
Um poema com a leveza das coisas que se despedem deste mundo, mesmo se caudatárias
da mais intimidadora fatalidade, como nos casos de pessoas capazes de abraçar a
morte de modo deliberado, sem fundamento dignamente apreciável que não seja a
pura paixão.
J.A.R. – H.C.
Manuel Bandeira
(1886-1968)
O último poema
Assim eu quereria meu
último poema
Que fosse terno
dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente
como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza
das flores quase sem perfume
A pureza da chama em
que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas
que se matam sem explicação.
Em: “Libertinagem” (1930)
Em: “Libertinagem” (1930)
Anjo do Crepúsculo
(Josephine Wall:
pintora inglesa)
Referência:
BANDEIRA, Manuel. O último poema. In:
__________. Bandeira de bolso: uma antologia poética. Organização e
apresentação de Mara Jardim. Porto Alegre, RS: L&PM, 2013. p. 91. (L&PM
Pocket; v. 675)
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