Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Jorge de Sena - Ideário para a Criação

O poeta prospecta as formas mais puras de expressar em palavras, sentenças, orações, tudo aquilo que no espírito lhe aflora de súbito. E o que lhe vem de modo assim tão luminoso é a vertente ideal pela qual deve trilhar todo aquele que se dispõe a criar, seja qual for a variante de criação.

Ante todas as injustiças deste mundo, há de se tutelar o que for verdadeiro, ainda que, pelo momento, tal verdade esteja toldada pelo ludíbrio dos que lograram elevar mais alto a chama torpe do mal.

J.A.R. – H.C.

Jorge de Sena
(1919-1978)

Ideário para a criação

Quando, em ti próprio, ouvires algum combate
do sonho em luta com a sua própria alma
e o mundo te parecer maior que a vida
e a vida te parecer a velha estrada
onde só tu não perseguiste o sonho,
defende, de ambos, o que for vencido.

Quando à tua beira, houver um perseguido
e o escárnio se abater sobre o que ele pensa
e o mundo inteiro o perseguir mentindo
uma mentira maior que a dessa ideia,
defende-a como tua antes que o mundo
esmague em si próprio a chama em que se ateia.

Quando, como hoje, os crimes forem tantos
que as praias sequem no desdém das ondas,
e o melhor homem for um criminoso
voltando ansioso ao local do crime,
e o sangue nem lhe suje a ansiedade
porque não há mais sangue que ciências loucas,
grita aos ventos da morte que os traíram –
e na terra se ouça que a verdade é falsa
e só eram verdade os que partiram.

Em: “Coroa da Terra” (1946)

A Criação de um Poeta
(Taha H. Malasi: artista sudanês)

Referência:

SENA, Jorge de. Ideário da criação. In: __________. Versos e alguma prosa de Jorge de Sena. Prefácio e selecção de textos de Eugénio Lisboa. Lisboa, PT: Arcádia e Moraes, 1979. p. 30.

2 comentários:

  1. Jorge de Sena - Poeta de um só rosto e de uma só fé / ele tudo pode ser mas poeta fingido não é ! Frassino Machado

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  2. Prezado Frassino: Visitei o seu endereço (http://www.frassinomachado.net/) e apreciei ‎imensamente a organização, as matérias publicadas e, em especial, é claro, os poemas, ‎ou melhor, os seus poemas. Agradeço pelo comentário em forma de dístico rimado: ‎Jorge de Sena, por conseguinte, não pertence ao círculo dos poetas pessoanos. Melhor ‎assim, a poesia enquanto consectária das experiências de fato vividas por seus autores. ‎Um grande abraço. João A. Rodrigues

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