Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Cecília Meireles - Reinvenção

Mesmo que muito do que imaginamos, sonhamos acordados, não se materialize, pouco importa, é dessa matéria que a vida humana também se constitui. Pode parecer a cada um que a própria vida efetivamente usufruída encontra limites amparados pela insatisfação de não se ter ido mais longe...

No letárgico dia a dia, faz-se necessário reinventar-se, por conseguinte, de modo a fazer girar a máquina do mundo, de cuja voragem se poderá apreender o animus vivendi, hábil para impelir à frente as raias que nos cerceiam e, eventualmente, nos infelicitam.

J.A.R. – H.C.

Cecília Meireles
(1901-1964)

Reinvenção

A vida só é possível
reinventada.

Anda o sol pelas campinas
e passeia a mão dourada
pelas águas, pelas folhas...
Ah! tudo bolhas
que vem de fundas piscinas
de ilusionismo... – mais nada.

Mas a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.

Vem a lua, vem, retira
as algemas dos meus braços.
Projeto-me por espaços
cheios da tua Figura.
Tudo mentira! Mentira
da lua, na noite escura.

Não te encontro, não te alcanço...
Só – no tempo equilibrada,
desprendo-me do balanço
que além do tempo me leva.
Só – na treva,
fico: recebida e dada.

Porque a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.

De: “Vaga Música”

Transformação - Fantasia Abstrata
(Marina Petro: pintora norte-americana)

Referência:

MEIRELES, Cecília. Reinvenção. In: __________. Cecília de bolso: uma antologia poética. Organização e apresentação de Fabrício Carpinejar. Porto Alegre, RS: L&PM, 2014. p. 56. (L&PM Pocket; v. 700)

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