Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 28 de fevereiro de 2016

Gary Snyder - Quanto aos Poetas

A refletir um mundo de simplicidade e constância, em sintonia com a natureza, este poema do californiano Gary Snyder, ainda assim, busca evidenciar que a inspiração poética pode se originar de diversas maneiras, a depender, v.g., do perfil do poeta que a expressa: se do ar, da terra, do fogo, da água, do espaço ou da mente.

Para cada um deles, uma ideia diferente. E dentro deles, a enorme variedade da experiência e do comportamento humanos. E isso para singularizarmos apenas uma peculiar espécie de humanos a que faz menção o poema: os poetas e as poetisas!

J.A.R. – H.C.

Gary Snyder
(n. 1930)

As for Poets

As for poets
The Earth Poets
Who write small poems,
Need help from no man.

The Air Poets
Play out the swiftest gales
And sometimes loll in the eddies.
Poem after poem,
Curling back on the same thrust.

At fifty below
Fuel oil wont flow
And propane stays in the tank.
Fire Poets
Burn at absolute zero
Fossil love pumped backup.

The first
Water Poet
Stayed down six years.
He was covered with seaweed.
The life in his poem
Left millions of tiny
Different tracks
Criss-crossing through the mud.

With the Sun and Moon
In his belly,
The Space Poet
Sleeps.
No end to the sky −
But his poems,
Like wild geese,
Fly off the edge.

A Mind Poet
Stays in the house.
The house is empty
And it has no walls.
The poem
Is seen from all sides,
Everywhere,
At once.

(1974)

Terra, Ar, Fogo e Água (I)
(Lynne Baur: pintora norte-americana)

Quanto aos Poetas

Quanto aos poetas
Os Poetas da Terra
Que escrevem curtos poemas,
Não necessitam da ajuda de ninguém.

Os Poetas do Ar
Agitam os vendavais mais velozes
E às vezes pendem nos redemoinhos.
Poema após poema,
Enroscando-se no mesmo impulso.

A menos cinquenta graus
O óleo combustível não fluirá
E o propano permanece no tanque.
Poetas do Fogo
Ardem no zero absoluto
Amor fóssil que volta a bombear.

O primeiro
Poeta da Água
Permaneceu seis anos submerso.
Cobriam-no as algas marinhas.
A vida em seu poema
Deixou milhões de diminutos e
Distintos rastos
Entrecruzando-se no meio da lama.

Com o sol e a lua
Em seu ventre,
O Poeta do Espaço
Dorme.
O céu não tem fim –
Mas seus poemas,
Como gansos selvagens,
Voam para além da margem.

Um Poeta da Mente
Permanece em casa.
A casa está vazia
E não tem paredes.
O poema
Pode ser visto em toda parte,
Em qualquer lugar,
A todo instante.

Referência:

SNYDER, Gary. As for poets. In: HOOVER, Paul (Ed.). A postmodern american poetry: a norton anthology. New York, NY: W. W. Norton & Company Inc., 1994. p. 218-219.

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