Faço aqui um rápido esclarecimento sobre a atração que tenho pelos
gatos, que me levou a criar, neste bloguinho, um marcador reservadamente a eles
dedicado (“Apologia do Gato”). Com efeito, tenho um prazer especial quando
estou a selecionar ou a traduzir algum poema cujo tema ou o seu conteúdo verse
sobre nossos pequenos felinos. Talvez porque veja neles um comportamento meio
parecido com o meu: bem quieto quando sozinho, incomodado quando instigado, ou
algo assim, quando então, positivamente, censuro todos os reptos.
O mais curioso é que não tenho – ou jamais criei – nenhum gato! Minhas
experiências com os bichanos limitaram-se a vê-los, e pegá-los, quando criança,
o que me levou a ter assomos de asma até mais ou menos o fim da adolescência,
para nunca mais.
Como se pode inferir, portanto, meu interesse momentâneo fica por conta
do encanto que é perscrutar grande parte do espaço literário mundial,
especialmente ocidental, para dele extrair alguns dos poemas mais
significativos sobre essa espécie animal. Quiçá os leitores deste bloguinho
também usufruam do mesmo prazer que tenho quando vejo os poetas darem contorno,
com suas palavras, às singularidades do universo felino em miniatura.
J.A.R. – H.C.
Millôr Fernandes
(1923-2012)
Poesia entediada entre o cão e o gato
O cão é o melhor
amigo
Do homem.
Já o gato
É apenas
O pior inimigo do
rato.
O cão ladra
(Ou não ladra).
Mas o gato
Esse jamais se
enquadra;
Ronrona, ressona,
mia,
Vadia,
Mas, no geral,
Apenas desconfia.
Parece cão por uns
momentos
Mas em geral
Nada exprime de seus
sentimentos.
Prefira o cão
– É mais irmão.
Prefiro o gato
– É mais barato.
9/11/1955
Cão e Gato
(Nancy Spielman:
pintora norte-americana)
Referência:
FERNANDES, Millôr. Poesia entediada
entre o cão e o gato. In: __________. Essa
cara não me é estranha e outros poemas. 1. ed. São Paulo: Boa Companhia,
2014. p. 52.
ö
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