Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Millôr Fernandes - Poesia entediada entre o cão e o gato

Faço aqui um rápido esclarecimento sobre a atração que tenho pelos gatos, que me levou a criar, neste bloguinho, um marcador reservadamente a eles dedicado (“Apologia do Gato”). Com efeito, tenho um prazer especial quando estou a selecionar ou a traduzir algum poema cujo tema ou o seu conteúdo verse sobre nossos pequenos felinos. Talvez porque veja neles um comportamento meio parecido com o meu: bem quieto quando sozinho, incomodado quando instigado, ou algo assim, quando então, positivamente, censuro todos os reptos.

O mais curioso é que não tenho – ou jamais criei – nenhum gato! Minhas experiências com os bichanos limitaram-se a vê-los, e pegá-los, quando criança, o que me levou a ter assomos de asma até mais ou menos o fim da adolescência, para nunca mais.

Como se pode inferir, portanto, meu interesse momentâneo fica por conta do encanto que é perscrutar grande parte do espaço literário mundial, especialmente ocidental, para dele extrair alguns dos poemas mais significativos sobre essa espécie animal. Quiçá os leitores deste bloguinho também usufruam do mesmo prazer que tenho quando vejo os poetas darem contorno, com suas palavras, às singularidades do universo felino em miniatura.

J.A.R. – H.C.

Millôr Fernandes
(1923-2012)

Poesia entediada entre o cão e o gato

O cão é o melhor amigo
Do homem.
Já o gato
É apenas
O pior inimigo do rato.
O cão ladra
(Ou não ladra).
Mas o gato
Esse jamais se enquadra;
Ronrona, ressona, mia,
Vadia,
Mas, no geral,
Apenas desconfia.
Parece cão por uns momentos
Mas em geral
Nada exprime de seus sentimentos.
Prefira o cão
– É mais irmão. Prefiro o gato
– É mais barato.

9/11/1955

Cão e Gato
(Nancy Spielman: pintora norte-americana)

Referência:

FERNANDES, Millôr. Poesia entediada entre o cão e o gato. In: __________. Essa cara não me é estranha e outros poemas. 1. ed. São Paulo: Boa Companhia, 2014. p. 52.
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