Neste domingo, um dia sempre carregado de muita fantasia, nada melhor do
que nos deliciarmos com mais um poema do norte-americano Wallace Stevens, um
discreto advogado que, em suas horas vagas, e já cinquentão, deleitava-se em
registrar sob a forma de poemas muito de sua filosofia e visão do mundo.
Neste poema, Wallace tenta estabelecer um programa de identidade entre o
leitor e o seu livro, ou talvez melhor, sua leitura. O leitor, ele mesmo um estudioso
em busca da verdade, é como se um circunspecto fosse, envolto em paisagens a
emular pensamentos perfeitos, num ambiente familiar e sereno.
J.A.R. – H.C.
Wallace Stevens
(1879-1955)
The house was
quiet and the world was calm
The house was quiet and the world was calm.
The reader became the book; and summer night
Was like the conscious being of the book.
The house was quiet and the world was calm.
The words were spoken as if there was no book,
Except that the reader leaned above the page,
Wanted to lean, wanted much most to be
The scholar to whom his book is true, to whom
The summer night is like a perfection of thought.
The house was quiet because it had to be.
The quiet was part of the meaning, part of the
mind:
The access of perfection to the page.
And the world was calm. The truth in a calm world,
In which there is no other meaning, itself
Is calm, itself is summer and night, itself
Is the reader leaning late and reading; there.
Manhã Calma
(Kathy Wheeler:
artista norte-americana)
A casa estava em silêncio e o mundo
calmo
A casa estava em silêncio
e o mundo calmo.
O leitor converteu-se no
livro; e a noite de verão
Era como a essência
consciente do livro.
A casa estava em
silêncio e o mundo calmo.
As palavras eram
pronunciadas como se não houvesse livro,
Exceto que o leitor se
debruçava sobre a página,
Queria debruçar-se,
queria tanto ser
O erudito para quem
seu livro é a verdade, para quem
A noite de verão é
como uma perfeição de pensamento.
A casa estava em
silêncio porque assim devia estar.
O silêncio era parte
do significado, parte da mente:
O acesso de perfeição à página.
E o mundo estava
calmo. A verdade num mundo calmo,
Em que não há outro
significado, ela mesma
É calma, ela mesma é
verão e noite, ela mesma
É o leitor ali
debruçado e lendo até altas horas.
Referência:
STEVENS, Wallace. The house was quiet and the world was calm. In:
__________. The collected poems. Parts
of a World. 11. ed. New York, NY: Alfred A. Knopf. Inc., feb. 1971. p. 358-359.
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