Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 21 de novembro de 2015

Victor Oliveira Mateus - O que dói não são as ruturas

Mais um poema a veicular a ideia de que o tempo é o senhor de tudo. Que sob o seu alcance, as coisas acabam por perder importância, a terem os seus efeitos atenuados. Logo elas que, em dado momento, podem nos ter atormentado sobremaneira!

Mesmo os episódios que tendem a ser marcantes, como as “ruturas” a que se refere o poeta, as palavras mal colocadas, as emoções que chegam a ranger no espírito, revelam-se-nos como ondas num alto e revolto mar que, ao final, bem próximo à praia, inclinam-se a não passar de simples “marolinhas”, circunstâncias sem relevância alguma.

J.A.R. – H.C.

Victor Oliveira Mateus
(n. 1952)

Victor Oliveira Mateus é natural de Lisboa e formado em Filosofia pela Universidade Clássica dessa cidade. Dedicou-se ao ensino da Filosofia e da Psicologia. Tem oito livros de poesia publicados e uma novela, traduziu autores clássicos e organizou diversas Antologias, de poesia e de contos, portuguesas e luso-brasileiras. Tem poemas, contos e ensaios dispersos por Portugal, Brasil, Moçambique, Espanha, Itália, México e Macau. Coordena a coleção de poesia Contramaré, da Editora Labirinto, tem pertencido ao júri de diversos prêmios literários e feito conferências em escolas, faculdades e espaços culturais diversos. Foi-lhe concedido, em 2013, pela União Brasileira dos Escritores do Rio de Janeiro, o Prêmio Eugénio de Andrade. É sócio da A.P.E. (Associação Portuguesa de Escritores) e membro da Direção do PEN Clube Português (ABL, 2015, p. 243).

A Idade Intemporal
(Helen Knoop: pintora norueguesa)

O que dói não são as ruturas

O que dói não são as ruturas, o afastamento,
a incapacidade a minar como um cancro
oculto e certeiro. O que dói não é
a pouca solidez com que se disse
esta ou aquela palavra, esta ou aquela frase;
com que se insistiu, apesar de receios vários,
na grotesca encenação do que se previa
muito aquém de qualquer futuro. O que dói
não é a viscosidade das emoções a grafar-se
em algum mapa antecipadamente condenado,
nem tampouco a insistência de uma insolúvel
lembrança a fugir. O que dói verdadeiramente
é acordarmos um dia e descobrirmos
que nada disso teve importância alguma.

Referência:

MATEUS, Victor Oliveira. O que dói não são as ruturas. In: ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (ABL). Revista brasileira. Fase VIII; abr-mai-jun 2015; ano IV; nº 83. p. 244.

Nenhum comentário:

Postar um comentário