Esta postagem traz um exemplar intensamente expressivo da poesia do
colombiano Fernando Charry Lara. Revela-se-nos toda a intimidade que o poeta tem
com as musas do Parnaso, num discurso que muito se aproxima do sensual, em que
a poesia é tratada como uma “secreta amante”.
Há no poema imagens que permitem associar o experimento poético a um assombro
provocado pelo sonho ou por fantasmas, mais nítido em tempos outrora
vivenciados, pois como sintetiza o poeta, a invisível formosura, a graça
melancólica de outro tempo, retira-se...
J.A.R. – H.C.
Fernando Charry Lara
(1920-2004)
A la Poesía
Al soñar tu imagen,
bajo la luna sombría,
el adolescente
de entonces hallaba
el desierto y la sed
de su pecho.
Remoto fuego de
resplandor helado,
llama donde palidece
la agonía,
entre glaciales nubes
enemigas
te imaginaba y era
como se sueña a la
muerte mientras se vive.
Todo siendo, sin
embargo, tan íntimo.
Apenas una
habitación,
apenas el roce de un
ala o un amor que atravesase noches,
con pausado vuelo
lánguido,
con solamente el
ruido, el resbalar
de la lluvia sobre
dormidos hombros adorados.
Sí, dime de dónde
llegabas, sueño o fantasma,
hasta mi propia
sombra, dulce, tenaz, al lado.
Así asomas ahora,
silenciosa,
tal entre los
recuerdos
el cuerpo amado
avanza
y al despertar, a la
orilla del lecho,
entre olvido y años,
al entreabrir los
ojos a su deslumbramiento,
hoyes sólo
la gracia melancólica
que huye,
invisible hermosura
de otro tiempo.
No existe sino un
día, un solo día,
existe un único día
inextinguible,
lento taladro sin fin
royendo sombras:
¡No soy aquél ni el
otro,
y ayer ni ahora soy
como. soñaba!
Qué turbadora memoria
recobrarte,
adorar de nuevo tu
voracidad,
repasar la mano por
tu cabellera en desorden,
brazo que ciñe una
cintura en la oscuridad silenciosa.
Ser otra vez tú
misma,
salobre respuesta
casi sin palabras,
surgida de la noche
con tristes sonidos,
rocas, lamentos arrancados del mar.
Tú sola, lunar y
solar astro fugitivo,
contemplas perder al
hombre su batalla
mas tú sola, secreta
amante,
puedes compensarle su
derrota con tu delirio.
Míralo por la tierra
vagar a través de su tiniebla:
crúzalo con la espada
de tu relámpago,
condúcelo a tu
estación nocturna,
enajénalo con tu amor
y tu desdén.
y luego, en tu
desnudez eterna,
abandóname tu cuerpo
y haz que sienta
tibio tu labio cerca de mi beso,
para que otra vez,
despierto entre los hombres,
te recuerde.
Diana, Selene e Endimião
(Giovanni A.
Pellegrini: pintor italiano)
À Poesia
Ao sonhar tua imagem
sob a lua sombria, o
adolescente
de então descobria
o deserto e a sede de
seu peito.
Remoto fogo de brilho
gelado,
chama onde empalidece
a agonia,
entre glaciais nuvens
inimigas
te imaginava e era
como se sonha a morte
enquanto se vive.
Tudo sendo, contudo,
tão íntimo.
Apenas um aposento,
Apenas o roçar de uma
asa ou um amor que atravessasse noites,
com voo lânguido e
pausado,
com somente o ruído,
o resvalar
da chuva sobre
adorados ombros adormecidos.
Sim, diz-me de onde
chegavas, sonho ou fantasma,
até minha própria
sombra, doce, tenaz, ao lado.
Assim assomas agora,
silenciosa,
tal entre as
lembranças
o corpo amado avança
e ao despertar, à
beira do leito,
entre o esquecimento
e os anos,
ao entreabrir os
olhos ao seu deslumbramento,
hoje és somente
a graça melancólica
que foge,
invisível formosura
de outro tempo.
Não existe senão um
dia, um só dia,
existe um único dia
inextinguível,
lenta broca sem fim
roendo sombras:
Não sou aquele nem o
outro,
e nem agora como
ontem sou como sonhava!
Que perturbadora
memória recobrar-te,
adorar de novo a tua
voracidade,
repassar a mão por
tua cabeleira em desordem,
braço que cinge uma
cintura na obscuridade silenciosa.
Ser outra vez tu
mesma,
salobra resposta
quase sem palavras,
surgida da noite
com tristes sons,
rochas, lamentos arrancados do mar.
Tu sozinha, fugitivo
astro solar e lunar,
contemplas o homem a
perder sua batalha
mas tu sozinha,
secreta amante,
podes compensar-lhe
sua derrota com teu delírio.
Olha-o a vagar pela
terra através de sua treva:
cruza-o com a espada
de teu relâmpago,
conduze-o a tua
estação noturna,
aliena-o com teu amor
e teu desdém.
E depois, em tua
nudez eterna,
abandona-me teu corpo
e faz que sinta teu
lábio morno perto de meu beijo,
para que outra vez,
desperto entre os homens,
te recorde.
Referência:
LARA, Fernando Charry. A la poesia. In:
BORDA, Juán Gustavo Cobo (Selección, prólogo y notas). Antología de la poesía hispanoamericana. 1. ed. México, DF: Fondo
de Cultura Económica, 1985. p. 208-209 (Colección Tierra Firme).
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário