Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Fernando Charry Lara - À Poesia

Esta postagem traz um exemplar intensamente expressivo da poesia do colombiano Fernando Charry Lara. Revela-se-nos toda a intimidade que o poeta tem com as musas do Parnaso, num discurso que muito se aproxima do sensual, em que a poesia é tratada como uma “secreta amante”.

Há no poema imagens que permitem associar o experimento poético a um assombro provocado pelo sonho ou por fantasmas, mais nítido em tempos outrora vivenciados, pois como sintetiza o poeta, a invisível formosura, a graça melancólica de outro tempo, retira-se...

J.A.R. – H.C.

Fernando Charry Lara
(1920-2004)

A la Poesía

Al soñar tu imagen,
bajo la luna sombría, el adolescente
de entonces hallaba
el desierto y la sed de su pecho.
Remoto fuego de resplandor helado,
llama donde palidece la agonía,
entre glaciales nubes enemigas
te imaginaba y era
como se sueña a la muerte mientras se vive.
Todo siendo, sin embargo, tan íntimo.
Apenas una habitación,
apenas el roce de un ala o un amor que atravesase noches,
con pausado vuelo lánguido,
con solamente el ruido, el resbalar
de la lluvia sobre dormidos hombros adorados.

Sí, dime de dónde llegabas, sueño o fantasma,
hasta mi propia sombra, dulce, tenaz, al lado.
Así asomas ahora,
silenciosa,
tal entre los recuerdos
el cuerpo amado avanza
y al despertar, a la orilla del lecho,
entre olvido y años,
al entreabrir los ojos a su deslumbramiento,
hoyes sólo
la gracia melancólica que huye,
invisible hermosura de otro tiempo.
No existe sino un día, un solo día,
existe un único día inextinguible,
lento taladro sin fin royendo sombras:
¡No soy aquél ni el otro,
y ayer ni ahora soy como. soñaba!

Qué turbadora memoria recobrarte,
adorar de nuevo tu voracidad,
repasar la mano por tu cabellera en desorden,
brazo que ciñe una cintura en la oscuridad silenciosa.
Ser otra vez tú misma,
salobre respuesta casi sin palabras,
surgida de la noche
con tristes sonidos, rocas, lamentos arrancados del mar.

Tú sola, lunar y solar astro fugitivo,
contemplas perder al hombre su batalla
mas tú sola, secreta amante,
puedes compensarle su derrota con tu delirio.
Míralo por la tierra vagar a través de su tiniebla:
crúzalo con la espada de tu relámpago,
condúcelo a tu estación nocturna,
enajénalo con tu amor y tu desdén.
y luego, en tu desnudez eterna,
abandóname tu cuerpo
y haz que sienta tibio tu labio cerca de mi beso,
para que otra vez, despierto entre los hombres,
te recuerde.

Diana, Selene e Endimião
(Giovanni A. Pellegrini: pintor italiano)

À Poesia

Ao sonhar tua imagem
sob a lua sombria, o adolescente
de então descobria
o deserto e a sede de seu peito.
Remoto fogo de brilho gelado,
chama onde empalidece a agonia,
entre glaciais nuvens inimigas
te imaginava e era
como se sonha a morte enquanto se vive.
Tudo sendo, contudo, tão íntimo.
Apenas um aposento,
Apenas o roçar de uma asa ou um amor que atravessasse noites,
com voo lânguido e pausado,
com somente o ruído, o resvalar
da chuva sobre adorados ombros adormecidos.

Sim, diz-me de onde chegavas, sonho ou fantasma,
até minha própria sombra, doce, tenaz, ao lado.
Assim assomas agora,
silenciosa,
tal entre as lembranças
o corpo amado avança
e ao despertar, à beira do leito,
entre o esquecimento e os anos,
ao entreabrir os olhos ao seu deslumbramento,
hoje és somente
a graça melancólica que foge,
invisível formosura de outro tempo.
Não existe senão um dia, um só dia,
existe um único dia inextinguível,
lenta broca sem fim roendo sombras:
Não sou aquele nem o outro,
e nem agora como ontem sou como sonhava!

Que perturbadora memória recobrar-te,
adorar de novo a tua voracidade,
repassar a mão por tua cabeleira em desordem,
braço que cinge uma cintura na obscuridade silenciosa.
Ser outra vez tu mesma,
salobra resposta quase sem palavras,
surgida da noite
com tristes sons, rochas, lamentos arrancados do mar.

Tu sozinha, fugitivo astro solar e lunar,
contemplas o homem a perder sua batalha
mas tu sozinha, secreta amante,
podes compensar-lhe sua derrota com teu delírio.
Olha-o a vagar pela terra através de sua treva:
cruza-o com a espada de teu relâmpago,
conduze-o a tua estação noturna,
aliena-o com teu amor e teu desdém.
E depois, em tua nudez eterna,
abandona-me teu corpo
e faz que sinta teu lábio morno perto de meu beijo,
para que outra vez, desperto entre os homens,
te recorde.

Referência:

LARA, Fernando Charry. A la poesia. In: BORDA, Juán Gustavo Cobo (Selección, prólogo y notas). Antología de la poesía hispanoamericana. 1. ed. México, DF: Fondo de Cultura Económica, 1985. p. 208-209 (Colección Tierra Firme).

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