Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Henriqueta Lisboa - O Dom

Era preciso ser operário, construtor e artista para se vislumbrar a construção de uma cidade inteira num espaço interiorano bem distante da chamada “civilização”. Era preciso ser visionário para prever que do nada pudesse se originar um polo que viesse a atrair gente de todo um país.

Esse dom, presente em homens como Juscelino Kubitschek, Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, conforma o imaginário que se tem da capital nacional, a muitos quilômetros do litoral, mas no centro geográfico e político deste vasto torrão.

J.A.R. – H.C.

Henriqueta Lisboa
(1901-1985)

O Dom

Esse dom de prever
o imprevisível de uma
certa forma nenhuma

De elidir o visível
ao sol quando à penumbra
o invisível explode

Esse dom de sofrer
outra vez o sofrido
só por mais limpidez

De principiar após
o término de tudo
sem ter chegado a cabo

Esse do reflexo mútuo
é o dom de quem mata
do que morre

Inventor Arquiteto
Construtor Operário Artista.

A galáxia refluía à fonte:
são os astros de humana estirpe
entressonhados noite a noite
que coroam Brasília.

Catedral de Brasília
(Carlos Bracher: pintor brasileiro)

Referência:

LISBOA, Henriqueta. O dom. In: __________. Melhores poemas de Henriqueta Lisboa. Seleção de Fábio Lucas. São Paulo, SP: Global, 2001. p. 174.

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