Era preciso ser operário, construtor e artista para se vislumbrar a construção
de uma cidade inteira num espaço interiorano bem distante da chamada “civilização”.
Era preciso ser visionário para prever que do nada pudesse se originar um polo que
viesse a atrair gente de todo um país.
Esse dom, presente em homens como Juscelino Kubitschek, Lúcio Costa e
Oscar Niemeyer, conforma o imaginário que se tem da capital nacional, a muitos
quilômetros do litoral, mas no centro geográfico e político deste vasto torrão.
J.A.R. – H.C.
Henriqueta Lisboa
(1901-1985)
O Dom
Esse dom de prever
o imprevisível de uma
certa forma nenhuma
De elidir o visível
ao sol quando à
penumbra
o invisível explode
Esse dom de sofrer
outra vez o sofrido
só por mais limpidez
De principiar após
o término de tudo
sem ter chegado a
cabo
Esse do reflexo mútuo
é o dom de quem mata
do que morre
Inventor Arquiteto
Construtor Operário
Artista.
A galáxia refluía à
fonte:
são os astros de
humana estirpe
entressonhados noite
a noite
que coroam Brasília.
Catedral de Brasília
(Carlos Bracher:
pintor brasileiro)
Referência:
LISBOA, Henriqueta. O dom. In:
__________. Melhores poemas de
Henriqueta Lisboa. Seleção de Fábio Lucas. São Paulo, SP: Global, 2001. p.
174.
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