Com um tipo de alocução similar à do Gênesis 3:19, como se apenas houvesse
substituído o vocábulo “pão” pela palavra “esperança”, este breve poema de
Nejar também fez-me entrever alguma alusão, talvez não tencionada, ao Aleijadinho,
pelos termos da parte final de sua segunda estrofe.
E no fim de tudo, quando as coisas atingirem o seu remate, a morte
prenunciada, restar-nos-á a esperança, essa chama de espírito capaz de nos
fazer manter a fé no sentido hierático desta vida.
J.A.R. – H.C.
Carlos Nejar
(n. 1939)
Cântico
Limarás tua esperança
até que a mó se
desgaste;
mesmo sem mó, limarás
contra a sorte e o
desespero.
Até que tudo te seja
mais doloroso e
profundo.
Limarás sem mãos ou
braços,
com o coração
resoluto.
Conhecerás a
esperança,
após a morte de tudo.
Esperança
(George Frederic
Watts: pintor inglês)
Referência:
NEJAR, Carlos. Cântico. In: PINTO, José Nêumanne (Sel.). Os Cem Melhores Poetas Brasileiros do
Século. Ilustrações de Tide Hellmeister. 2. ed. São Paulo, SP: Geração
Editorial, 2004. p. 214.
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