Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Bruno Tolentino - À Terra Provisória

Este soneto é uma sentença de adeus – muito certamente provisório – à terra que viu nascer o poeta, com descrições bastante precisas de um cenário tropical de “irrepetível beleza”.

É possível que o poeta esteja se referindo a cenário dos arredores da cidade do Rio de Janeiro, onde veio à luz neste mundo. E se, de fato, o poema tem conexão direta com a biografia de Tolentino, a separação a que ele alude não terá sido breve, senão bastante estirada, pois o poeta viveu durante muito tempo na Europa.

Seja como for, provisória” é toda terra por onde passe o homem, pois aqui ou alhures, estaremos sempre em trânsito nesta breve experiência de vida, que o tempo dissipa inapelavelmente da memória.

J.A.R. – H.C.

Bruno Tolentino
(1940-2007)

À Terra Provisória

Adeus cimos e vales e veredas,
e bosques e clareiras e campinas
soltas ao vento, sacudindo as crinas
das espigas do sol na luz de seda.

Adeus troncos e copas e alamedas,
esmeraldas selvagens que as neblinas
salpicavam de prata, adeus colinas
que iam subindo como labaredas

de cobalto no ar... Adeus beleza
irrepetível, que me viu nascer
e toca-me deixar: a natureza

também é feita de deixar de ser,
e eu levo agora a sombra e deixo a presa
à inevitável luz do amanhecer.

Casa na Colina
(Jake Stilson: artista norte-americano)

Referência:

TOLENTINO, Bruno. À terra provisória. In: PINTO, José Nêumanne (Sel.). Os Cem Melhores Poetas Brasileiros do Século. Ilustrações de Tide Hellmeister. 2. ed. São Paulo, SP: Geração Editorial, 2004. p. 212-213.

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