Este soneto é uma sentença de adeus – muito certamente provisório – à
terra que viu nascer o poeta, com descrições bastante precisas de um cenário
tropical de “irrepetível beleza”.
É possível que o poeta esteja se referindo a cenário dos arredores da
cidade do Rio de Janeiro, onde veio à luz neste mundo. E se, de fato, o poema
tem conexão direta com a biografia de Tolentino, a separação a que ele alude
não terá sido breve, senão bastante estirada, pois o poeta viveu durante muito
tempo na Europa.
Seja como for, “provisória” é toda terra por onde passe o homem, pois aqui ou alhures, estaremos sempre em trânsito nesta breve experiência de vida, que o tempo dissipa inapelavelmente da memória.
Seja como for, “provisória” é toda terra por onde passe o homem, pois aqui ou alhures, estaremos sempre em trânsito nesta breve experiência de vida, que o tempo dissipa inapelavelmente da memória.
J.A.R. – H.C.
Bruno Tolentino
(1940-2007)
À Terra Provisória
Adeus cimos e vales e
veredas,
e bosques e clareiras
e campinas
soltas ao vento,
sacudindo as crinas
das espigas do sol na
luz de seda.
Adeus troncos e copas
e alamedas,
esmeraldas selvagens
que as neblinas
salpicavam de prata,
adeus colinas
que iam subindo como
labaredas
de cobalto no ar...
Adeus beleza
irrepetível, que me
viu nascer
e toca-me deixar: a
natureza
também é feita de
deixar de ser,
e eu levo agora a
sombra e deixo a presa
à inevitável luz do
amanhecer.
Casa na Colina
(Jake Stilson:
artista norte-americano)
Referência:
TOLENTINO, Bruno. À terra provisória. In:
PINTO, José Nêumanne (Sel.). Os Cem
Melhores Poetas Brasileiros do Século. Ilustrações de Tide Hellmeister. 2.
ed. São Paulo, SP: Geração Editorial, 2004. p. 212-213.
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