Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Robert Duncan - Poesia, uma coisa natural

Robert Duncan, poeta muito ligado à denominada “Nova Poesia Americana”, teoriza neste poema sobre a própria forma em que se processa o fenômeno poético: uma coisa bastante natural, segundo ele.

Não sem motivo, o poema está carregado de imagens oriundas da natureza – rochas, salmões, cascatas, galhadas de alce etc. –, de modo a estimular os poetas e escritores a se integrarem com ela, abandonando, assim, pretensões que sejam por demais “pesadas” e “artificiais” na produção literária.

J.A.R. – H.C.

Robert Duncan
(1919-1988)

Poetry, a natural thing

Neither our vices nor our virtues
further the poem. “They came up
and died
just like they do every year
on the rocks.”

The poem
feeds upon thought, feeling, impulse,
to breed    itself,
a spiritual urgency at the dark ladders leaping.

This beauty is an inner persistence
toward the source
striving against (within) down-rushet of the river,
a call we heard and answer
in the lateness of the world
primordial bellowings
from which the youngest world might spring,

salmon not in the well where the
hazelnut falls
but at the falls battling, inarticulate,
blindly making it.

This is one picture apt for the mind.

A second: a moose painted by Stubbs,
where last year’s extravagant antlers
lie on the ground.
The forlorn moosey-faced poem wears
new antler-buds,
the same,

“a little heavy, a little contrived”,

his only beauty to be
all moose.

(1960)

O Alce
(George Stubbs)

Poesia, uma coisa natural

Nem nossos vícios nem nossas virtudes
promovem o poema. “Eles surgem
       e morrem
tal como o fazem todos os anos
       sobre as rochas.”

       O poema
se alimenta de pensamentos, sentimentos, impulsos,
       para recriar    a si mesmo,
uma urgência espiritual capaz de transpor sombrias escadas.

Essa beleza é uma persistência interior
       em direção à fonte
pelejando contra (dentro) a correnteza do rio,
       um chamado que escutamos e respondemos
na intempestividade do mundo,
       bramidos primordiais
a partir dos quais o mundo novo poderia surgir,

não há salmões no reservatório onde
       caem as avelãs,
senão nas cascatas a batalhar, inarticulados,
       impelindo-se às cegas.

Tal imagem é apropriada para a mente.

Uma segunda: um alce retratado por Stubbs (*),
junto ao qual extravagantes galhadas do ano anterior
       jazem sobre o solo.
O solitário poema com cara de alce dispõe
       de novos rebentos de chifres,
       iguais.

“um pouco pesado, um pouco artificial”,

sua única beleza é ser
todo alce.

Nota:

(*) Trata-se do pintor inglês George Stubbs (1724-1806).

Referência:

DUNCAN, Robert. Poetry, a natural thing. In: HOOVER, Paul (Ed.). A postmodern american poetry: a norton anthology. New York, NY: W. W. Norton & Company Inc., 1994. p. 37.

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