Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 7 de novembro de 2015

Claudio Daniel - Montaigne

A poética do paulista Claudio Daniel é, “em larga medida, calcada em miragens despertadas por texturas, pela evocação de delicadas sensações corpóreas e por uma imagética que combina elementos orientais e referências à poesia neobarroca latino-americana (que inclui contemporâneos como Haroldo de Campos e o cubano José Kozer) (PINTO, 2006, p. 174-175).

“‘Montaigne’, o admirável retrato do escritor francês do século 16, começa com a imagem voluptuosa da ‘cor mediterrânea’ e prossegue com um esboço quase prosaico de sua biografia (em que não faltam remissões a suas leituras e a sua amizade com La Boétie, ‘o amigo morto’) para terminar com a sentença, fiel ao autor dos Ensaios, de que ‘filosofar é aprendizado da morte’” (PINTO, 2006, p. 175).

J.A.R. – H.C.

Claudio Daniel
(n. 1962)

Montaigne

Acende a cor mediterrânea,
música para o latim.
Depois, rabisca um seio
de Medusa, inchado
na ponta da teta.
Lições de esgrima, para o jovem
nobre; e o calor da sela,
em dorso de cavalo escuro.
Seigneur, de afilado
traço (hebreu) da Ibéria,
bateu lâmina em lâmina
vencida, amou o jogo,
as damas e o amigo morto.
Foi diplomata, leitor
de Sêneca e Plutarco;
soube que o Esclesiastes
era um códice grego,
algo mais que escritura.
Estoico, serenou paixões,
recusou trovão e tumulto:
viu que a história
da miséria humana
é uma parcela do possível.
E soube em sua pele,
em seu sangue, filosofar
é aprendizado da morte.

De: “A Sombra do Leopardo”

Michel de Montaigne
[1533-1592]
(Retrato de autoria desconhecida)

Referência:

DANIEL, Claudio. Montaigne. In: PINTO, Manuel da Costa (Edição, Seleção e Comentários). Antologia comentada da poesia brasileira do século 21. São Paulo: Publifolha, 2006. p. 173-174.

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