Sempre com aquela linguagem musical, recheada de imagens sugestivas e
misteriosas, este poema, do poeta Cruz e Sousa – figura maior do Simbolismo
brasileiro –, tem por tema um hipotético encontro do poeta com a mãe-natureza.
É ela que lhe repassa o potente “cálice sacrossanto”, capaz de lhe abrir
outras tantas portas de acesso a mundos nunca dantes percorridos. Mundos que o
poeta retrata em seus textos, para o deleite de seus pares, ou melhor, aficionados leitores.
J.A.R. – H.C.
Cruz e Sousa
(1861-1898)
Supremo Verbo
– Vai, Peregrino do
caminho santo,
Faz da tu’alma
lâmpada do cego,
Iluminando, pego
sobre pego,
As invisíveis
amplidões do Pranto.
Ei-lo, do Amor o cálix
sacrossanto!
Bebe-o, feliz, nas
tuas mãos o entrego…
És o filho leal, que
eu não renego,
Que defendo nas
dobras do meu manto.
Assim ao Poeta a
Natureza fala!
Enquanto ele
estremece ao escutá-la,
Transfigurado de
emoção, sorrindo…
Sorrindo a céus que
vão se desvendando,
A mundos que vão se
multiplicando,
A portas de ouro que
vão se abrindo!
Em: “Últimos sonetos”, 1905.
A Generosidade de Alexandre
(Jerome-Martin
Langlois: pintor francês)
Referência:
SOUSA, Cruz e. Supremo verbo. In:
__________. Obra completa. v. I.
Poesia. Organização e estudo de Lauro Junkes. Jaraguá do Sul, SC: Avenida, 2008. p.
530. Disponível neste endereço.
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