Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

W. B. Yeats - O Céu Gélido

Eis aqui mais um poema a refletir sobre a vida, como ela é breve, como a experiência do amor pode resultar em desilusão, e como metáforas de uma afeição tórrida – um céu ardente, por exemplo – podem cambiar inopinadamente a outras, v.g., um firmamento gélido, de solidão e de pensamentos funestos, cujo maior augúrio são as mencionadas gralhas.

Mas esse gelo arde, como diz o poeta, porque machuca o coração, e tanto mais agora que a paixão e a energia dão mostras de fenecimento. E ainda: finda a agonia desta terra, outra mais dolorosa poderá advir, se como dizem os livros bíblicos, aos homens pecadores, apanhados em sua nudez, são infligidas penas que, sob a ótica do poeta, mais parecem castigos da “injustiça dos céus”.

J.A.R. – H.C.

W. B. Yeats
(1865-1939)

The Could Heaven

Suddenly I saw the cold and rook-delighting heaven
That seemed as though ice burned and was but the more ice,  
And thereupon imagination and heart were driven  
So wild that every casual thought of that and this
Vanished, and left but memories, that should be out of season  
With the hot blood of youth, of love crossed long ago;  
And I took all the blame out of all sense and reason,  
Until I cried and trembled and rocked to and fro,  
Riddled with light. Ah! when the ghost begins to quicken,  
Confusion of the death-bed over, is it sent  
Out naked on the roads, as the books say, and stricken  
By the injustice of the skies for punishment?

Coração em Chamas
(Janice Van Cronkhite: artista norte-americana)

O Céu Gélido

De repente, vi o céu gélido em que se deleitavam as gralhas
Que parecia como se o gelo ardesse e fosse ainda mais gelo,
E nisso a imaginação e o coração foram repelidos tão
Impetuosamente que todo pensamento fortuito disto ou daquilo
Se desvaneceu, e não deixou senão memórias, deslocadas no tempo
Com o sangue quente da juventude, do vivenciado amor de há muito;
Assumi a culpa sem nenhum sentido ou razão,
Até que chorei e tremi e vibrei de um lado a outro,
Trespassado pela luz. Ah! quando o fantasma começa a se animar,
Finda a confusão do leito de morte, ele é enviado
Despido pelas estradas, como afirmam os livros, e golpeado
Pelo castigo da injustiça dos céus?

Referência:

YEATS, W. B. The could heaven. In: __________. The collected poems of W. B. Yeats. Revised 2nd edition. Edited by Richard J. Finneran. New York, NY: Collier Books  MacMillan Publishing Company, 1989. p. 125.

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