Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Raul de Leoni - Ingratidão

Este poema revela como se dão as manifestações de ingratidão na vida do poeta, sejam elas valorações de simples fatos da natureza, sejam outras quaisquer cujos frutos não lhe vêm em retribuição, senão a terceiros.

Tais infortúnios mais parecem vaticínios que, ao acaso, ocorrem em sua vida, ainda que as intenções sejam semeadas em “sonho magnífico”. Ao final, resta o augúrio maior de Sófocles, que, ao encerrar a peça “Édipo-Rei”, apõe na boca do Corifeu: “Assim, não consideremos feliz nenhum ser humano, enquanto ele não tiver atingido, sem sofrer os golpes da fatalidade, o termo de sua vida” (Sófocles, 2005, p. 105).

J.A.R. – H.C.

Raul de Leoni
(1895-1926)

Ingratidão

Nunca mais me esqueci! ... Eu era criança
E em meu velho quintal, ao sol-nascente,
Plantei, com a minha mão ingênua e mansa,
Uma linda amendoeira adolescente.

Era a mais rútila e íntima esperança...
Cresceu... cresceu... e aos poucos, suavemente,
Pendeu os ramos sobre um muro em frente
E foi frutificar na vizinhança...

Daí por diante, pela vida inteira,
Todas as grandes árvores que em minhas
Terras, num sonho esplêndido semeio,

Como aquela magnífica amendoeira,
E florescem nas chácaras vizinhas
E vão dar frutos no pomar alheio...

Abertura Silenciosa do Portão
(Victor Tsyganov: artista ucraniano)
Computação Gráfica

Referências:

LEONI, Raul de. Ingratidão. In: PINTO, José Nêumanne (Sel.). Os cem melhores poetas brasileiros do século. São Paulo, SP: Geração, 2001. p. 62.

SÓFOCLES. Édipo-Rei. Tradução de J. B. de Mello e Souza. Versão para eBook. Disponível neste endereço. Acesso em: 12 out 2015.

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