Este poema revela como se dão as manifestações de ingratidão na vida do
poeta, sejam elas valorações de simples fatos da natureza, sejam outras
quaisquer cujos frutos não lhe vêm em retribuição, senão a terceiros.
Tais infortúnios mais parecem vaticínios que, ao acaso, ocorrem em sua
vida, ainda que as intenções sejam semeadas em “sonho magnífico”. Ao final,
resta o augúrio maior de Sófocles, que, ao encerrar a peça “Édipo-Rei”, apõe na
boca do Corifeu: “Assim, não consideremos feliz nenhum ser humano, enquanto ele
não tiver atingido, sem sofrer os golpes da fatalidade, o termo de sua vida”
(Sófocles, 2005, p. 105).
J.A.R. – H.C.
Raul de Leoni
(1895-1926)
Ingratidão
Nunca mais me
esqueci! ... Eu era criança
E em meu velho
quintal, ao sol-nascente,
Plantei, com a minha
mão ingênua e mansa,
Uma linda amendoeira
adolescente.
Era a mais rútila e
íntima esperança...
Cresceu... cresceu...
e aos poucos, suavemente,
Pendeu os ramos sobre
um muro em frente
E foi frutificar na
vizinhança...
Daí por diante, pela
vida inteira,
Todas as grandes
árvores que em minhas
Terras, num sonho
esplêndido semeio,
Como aquela magnífica
amendoeira,
E florescem nas
chácaras vizinhas
E vão dar frutos no
pomar alheio...
Abertura Silenciosa do Portão
(Victor Tsyganov:
artista ucraniano)
Computação Gráfica
Referências:
LEONI, Raul de. Ingratidão. In: PINTO, José Nêumanne (Sel.). Os cem melhores poetas brasileiros do
século. São Paulo, SP: Geração, 2001. p. 62.
SÓFOCLES. Édipo-Rei. Tradução de J. B. de Mello e Souza. Versão para eBook.
Disponível neste endereço.
Acesso em: 12 out 2015.
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