Este poema de Robert Frost retém o timbre da simplicidade: estacionado num bosque, o poeta contempla a noite
nevada e se compraz em ficar um pouco mais, embora reconheça a força das
obrigações e a considerável distância a ser percorrida antes que possa
descansar.
Há aqui uma clara dicotomia entre um modo de vida natural – representado
pelo bosque ou floresta, no qual vale mais a experiência imediata e o contato
com a sua beleza –, e uma forma de vida dita civilizada, que nos impõe
compromissos nem sempre agradáveis de serem cumpridos.
J.A.R. – H.C.
Nascido em 1875 e
morto em 1963, Frost foi e talvez ainda seja o mais popular dos poetas
americanos. Viveu algum tempo na Inglaterra e, com a publicação de seu primeiro
livro (A boy’s will), encontrou
imediato sucesso e glória. Venceu por quatro vezes o Pulitzer - algo que
ninguém mais conseguiu até hoje - e terminou sua vida como Poet Laureate. Sua poesia é apenas aparentemente simples, como bem
demonstra Randall Jarrell num excelente ensaio (in Poetry and the age) e bem se comprova pela leitura de um poema
(aqui incluído) como Neither out far nor
in deep. Este equívoco fez-se presente em algumas críticas que julgaram
Frost como pequeno “filósofo campestre”. Mas é verdade, apenas, que muito da
sua filosofia, da sua visão do mundo - em termos de poesia - partia do ambiente
realmente campestre em que preferiu viver. Quanto ao mais, de sua “aldeia” à
moda de Tolstoi, Frost alcançava dimensões de nítida universalidade em suas
realizações. Alguns de seus poemas de maior reputação se mantêm – erroneamente –
pela musicalidade natural de que ele era dotado, quando, na realidade, há em
todos algo de bastante far e bastante
deep; profound, mesmo. Seu encontro com a alma do povo americano foi
total e lhe valeu fama contínua e justa em seu país e fora dele (WANDERLEY, 1992, p. 65).
Robert Frost
(1874-1963)
Stopping by woods
on a snowy evening
Whose woods these are I think I know,
His house is in the village though;
He will not see me stopping here
To watch his woods fill up with snow.
My little horse must think it queer
To stop without a farmhouse near
Between the woods and frozen lake
The darkest evening of the year.
He gives his harness bells a shake
To ask if there is some mistake.
The only other sound’s the sweep
Of easy wind and downy flake.
The woods are lovely, dark and deep,
But I have promises to keep,
And miles to go before I sleep,
And miles to go before I sleep.
Bosque Nevado no Maine
(Brenda Owen: pintora
norte-americana)
Perto do bosque, numa noite de neve
O dono dos bosques
conheço, creio.
No entanto, mora na
cidade, alheio,
E não verá que me
detenho aqui
Olhando a neve que de
noite veio.
A meu cavalo parece
um engano
Que eu pare nestes
ermos, sem um plano,
Entre bosques e lagos
congelados
No entardecer mais
sombrio do ano.
Agita a rédea, sinto
seu chamado
Que me pergunta se
está algo errado.
Além dele, ouço
apenas a passagem
Da brisa leve e os
flocos repousados.
O bosque escuro e
fundo é bom de ver,
Mas eu tenho promessas
a manter,
E há que andar muito,
antes de adormecer,
E há que andar muito,
antes de adormecer.
Referência:
FROST, Robert. Stopping by woods on a snowy evening / Perto do bosque, numa noite de
neve. In: WANDERLEY, Jorge (Seleção, tradução e notas). Antologia da nova poesia norte-americana. Edição bilíngue. Rio de
Janeiro, RJ: Civilização Brasileira, 1992. Em inglês: p. 68; em português: p.
69.
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