Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Robert Frost - Perto do bosque, numa noite de neve

Este poema de Robert Frost retém o timbre da simplicidade: estacionado num bosque, o poeta contempla a noite nevada e se compraz em ficar um pouco mais, embora reconheça a força das obrigações e a considerável distância a ser percorrida antes que possa descansar.

Há aqui uma clara dicotomia entre um modo de vida natural – representado pelo bosque ou floresta, no qual vale mais a experiência imediata e o contato com a sua beleza –, e uma forma de vida dita civilizada, que nos impõe compromissos nem sempre agradáveis de serem cumpridos.

J.A.R. – H.C.

Nascido em 1875 e morto em 1963, Frost foi e talvez ainda seja o mais popular dos poetas americanos. Viveu algum tempo na Inglaterra e, com a publicação de seu primeiro livro (A boy’s will), encontrou imediato sucesso e glória. Venceu por quatro vezes o Pulitzer - algo que ninguém mais conseguiu até hoje - e terminou sua vida como Poet Laureate. Sua poesia é apenas aparentemente simples, como bem demonstra Randall Jarrell num excelente ensaio (in Poetry and the age) e bem se comprova pela leitura de um poema (aqui incluído) como Neither out far nor in deep. Este equívoco fez-se presente em algumas críticas que julgaram Frost como pequeno “filósofo campestre”. Mas é verdade, apenas, que muito da sua filosofia, da sua visão do mundo - em termos de poesia - partia do ambiente realmente campestre em que preferiu viver. Quanto ao mais, de sua “aldeia” à moda de Tolstoi, Frost alcançava dimensões de nítida universalidade em suas realizações. Alguns de seus poemas de maior reputação se mantêm – erroneamente – pela musicalidade natural de que ele era dotado, quando, na realidade, há em todos algo de bastante far e bastante deep; profound, mesmo. Seu encontro com a alma do povo americano foi total e lhe valeu fama contínua e justa em seu país e fora dele (WANDERLEY, 1992, p. 65).

Robert Frost
(1874-1963)

Stopping by woods on a snowy evening

Whose woods these are I think I know,
His house is in the village though;
He will not see me stopping here
To watch his woods fill up with snow.

My little horse must think it queer
To stop without a farmhouse near
Between the woods and frozen lake
The darkest evening of the year.

He gives his harness bells a shake
To ask if there is some mistake.
The only other sound’s the sweep
Of easy wind and downy flake.

The woods are lovely, dark and deep,
But I have promises to keep,
And miles to go before I sleep,
And miles to go before I sleep.

Bosque Nevado no Maine
(Brenda Owen: pintora norte-americana)

Perto do bosque, numa noite de neve

O dono dos bosques conheço, creio.
No entanto, mora na cidade, alheio,
E não verá que me detenho aqui
Olhando a neve que de noite veio.

A meu cavalo parece um engano
Que eu pare nestes ermos, sem um plano,
Entre bosques e lagos congelados
No entardecer mais sombrio do ano.

Agita a rédea, sinto seu chamado
Que me pergunta se está algo errado.
Além dele, ouço apenas a passagem
Da brisa leve e os flocos repousados.

O bosque escuro e fundo é bom de ver,
Mas eu tenho promessas a manter,
E há que andar muito, antes de adormecer,
E há que andar muito, antes de adormecer.

Referência:

FROST, Robert. Stopping by woods on a snowy evening / Perto do bosque, numa noite de neve. In: WANDERLEY, Jorge (Seleção, tradução e notas). Antologia da nova poesia norte-americana. Edição bilíngue. Rio de Janeiro, RJ: Civilização Brasileira, 1992. Em inglês: p. 68; em português: p. 69.

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