Qual a definição de um romancista para um homem acostumado ao Parnaso?
Eis aqui a resposta, sob a forma de um soneto, de autoria do reputado poeta
anglo-americano W. H. Auden.
Abaixo do poema original, em inglês, postamos a nossa tradução – o mais
próximo possível do literal – e, logo após, uma bela versão rimada que, estimo,
seja de autoria do literato paulista Alípio Correia de Franca Neto, uma vez que
sem referência ao tradutor, encontrei-a em seu blog, como indicado no ‘hiperlink’
que apresentamos no título.
J.A.R. – H.C.
W. H. Auden
(1907-1973)
The Novelist
Encased in talent like a uniform,
The rank of every poet is well known;
They can amaze us like a thunderstorm,
Or die so young, or live for years alone.
They can dash forward like hussars: but he
Must struggle out of his boyish gift and learn
How to be plain and awkward, how to be
One after whom none think it worth to turn.
For, to achieve his lightest wish, he must
Become the whole of boredom, subject to
Vulgar complaints like love, among the Just
Be just, among the filthy filthy too,
And in his own weak person, if he can,
Must suffer dully all the wrongs of Man.
(December, 1938)
O Romancista
Recoberto de talento
como se de um uniforme fosse,
O lugar de todo poeta
é bem conhecido;
Eles podem
assombrar-nos com uma tormenta,
Ou morrer tão jovens,
ou viver por anos sozinhos.
Podem avançar como os
hussardos: ele porém
Há de renunciar ao
seu jeito imaturo e aprender
Como ser simples e
desairoso, como ser alguém
A quem ninguém
pensaria em recorrer.
Pois, para alcançar o
seu mais ínfimo desejo, deve ele
Converter-se todo em
tédio, sujeitar-se
A queixas vulgares
como o amor, ser justo
Entre os justos, em
meio à súcia obsceno também,
E em sua débil
pessoa, se lhe for possível,
Acolher com zelo
todos os erros humanos.
Envergando o talento
a modo de uniforme,
O posto de um poeta é
claro a nós;
Pode nos surpreender
como tormenta enorme,
Morrer bem moço, anos
viver a sós.
Pode lançar-se como o
hussardo – ele, porém,
Tem que deixar o dom
pueril, tem que saber
Ser simples, meio
desastrado, ser alguém
A cuja retaguarda não
se quer volver.
Pois, para realizar o
seu menor anseio,
Tem que fazer-se todo
tédio, entregue às mil
Lamúrias triviais do
amor; ser justo em meio
Aos justos, entre os
homens vis também ser vil,
E frágil, se puder,
sofrer à toa o dano
De toda iniquidade
própria ao ser humano.
O Romancista
(Frantisek Kupka:
pinto tcheco)
Referência:
AUDEN, W. H. The novelis. In: WORDSWORTH, William et al. A choice of poets. Walton-on-Thames,
Surrey, UK: Thomas Nelson and Sons Ltd., 1989. p. 241-242.
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