Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 14 de maio de 2015

W. H. Auden - O Romancista

Qual a definição de um romancista para um homem acostumado ao Parnaso? Eis aqui a resposta, sob a forma de um soneto, de autoria do reputado poeta anglo-americano W. H. Auden.

Abaixo do poema original, em inglês, postamos a nossa tradução – o mais próximo possível do literal – e, logo após, uma bela versão rimada que, estimo, seja de autoria do literato paulista Alípio Correia de Franca Neto, uma vez que sem referência ao tradutor, encontrei-a em seu blog, como indicado no ‘hiperlink’ que apresentamos no título.

J.A.R. – H.C.

W. H. Auden
(1907-1973)

The Novelist

Encased in talent like a uniform,
The rank of every poet is well known;
They can amaze us like a thunderstorm,
Or die so young, or live for years alone.

They can dash forward like hussars: but he
Must struggle out of his boyish gift and learn
How to be plain and awkward, how to be
One after whom none think it worth to turn.

For, to achieve his lightest wish, he must
Become the whole of boredom, subject to
Vulgar complaints like love, among the Just

Be just, among the filthy filthy too,
And in his own weak person, if he can,
Must suffer dully all the wrongs of Man.

(December, 1938)

O Romancista

Recoberto de talento como se de um uniforme fosse,
O lugar de todo poeta é bem conhecido;
Eles podem assombrar-nos com uma tormenta,
Ou morrer tão jovens, ou viver por anos sozinhos.

Podem avançar como os hussardos: ele porém
Há de renunciar ao seu jeito imaturo e aprender
Como ser simples e desairoso, como ser alguém
A quem ninguém pensaria em recorrer.

Pois, para alcançar o seu mais ínfimo desejo, deve ele
Converter-se todo em tédio, sujeitar-se
A queixas vulgares como o amor, ser justo

Entre os justos, em meio à súcia obsceno também,
E em sua débil pessoa, se lhe for possível,
Acolher com zelo todos os erros humanos.


Envergando o talento a modo de uniforme,
O posto de um poeta é claro a nós;
Pode nos surpreender como tormenta enorme,
Morrer bem moço, anos viver a sós.

Pode lançar-se como o hussardo – ele, porém,
Tem que deixar o dom pueril, tem que saber
Ser simples, meio desastrado, ser alguém
A cuja retaguarda não se quer volver.

Pois, para realizar o seu menor anseio,
Tem que fazer-se todo tédio, entregue às mil
Lamúrias triviais do amor; ser justo em meio

Aos justos, entre os homens vis também ser vil,
E frágil, se puder, sofrer à toa o dano
De toda iniquidade própria ao ser humano.

O Romancista
(Frantisek Kupka: pinto tcheco)

Referência:

AUDEN, W. H. The novelis. In: WORDSWORTH, William et al. A choice of poets. Walton-on-Thames, Surrey, UK: Thomas Nelson and Sons Ltd., 1989. p. 241-242.

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