Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Joan Oliver - Há coisas por demais puras

Pere Quart, pseudônimo do poeta catalão Joan Oliver, já esteve presente nestas paragens (veja aqui). E como se trata de um poeta dos melhores, retorna neste momento, para lançar bravatas àqueles vates “verbosos”, que nada dizem a não ser um emaranhado de palavras selecionadas ao léxico, mas que não atingem o cerne mesmo da poesia.

Para tantas palavras lançadas ao léu, Quart sugere a apreciação mais ponderada do silêncio: que se faça valer a potência de cada lágrima derramada, de cada sussurro escandido, eis que são o lídimo “cântico da vida”.

J.A.R. – H.C.

Joan Oliver
(1899-1986)

Hi ha coses massa pures

Hi ha coses massa pures
per a ser dites
o només pensades.
Però els poetes,
incontinents, verbosos,
gosen inquietar les zones inefables
amb triades paraules
al capdavall estúpides.

I pretenen encara
ser els torsimanys
de la musa inservible
O d’algun déu
com tots sobrer.
¿O espremen d’ells mateixos
sucs celestes, potser?
Sort que escassegen els miralls,
puix que els poetes, en efecte,
són ben ridículs
en llur jactància.

Valdria més callar,
que tots calléssim.
I aleshores parar les grans orelles
i aprendre alguna cosa
dels planys, les boniors,
el càntic de la vida;
dels entranyats batecs
i els admirables – malgrat tot –
silencis animais
de l’home,
quasi impossible provatura.

Pureza
(Jan Lawnikanis: artista australiano)

Há coisas por demais puras

Há coisas por demais puras
para serem faladas
ou pensadas, que seja.
Mas os poetas,
intrometidos, verbosos,
ousam inquietar as zonas inefáveis
com seletas palavras
de fato estúpidas.

E pretendem ainda
ser alcoviteiros
de uma musa imprestável
ou de algum deus
como todos sobejo.
Ou espremem deles mesmos
sucos celestiais, quem sabe?
Ainda bem que escasseiam espelhos
porque os poetas, em verdade,
são bem ridículos
na sua empáfia.

Melhor seria calar
– nós todos, calar –
E, então, escancarando orelhas,
aprender muita coisa
dos prantos, os sussurros,

o cântico da vida;
dos entranháveis pulsos
e os fascinantes – apesar de tudo –
silêncios animais
do homem,
experiência como que impossível.

Referência:

Oliver, Joan. Hi ha coses massa pures / Há coisas por demais puras. In: SOLER, Luís (Organização e tradução). 4 poetas da Catalunha. Florianópolis, SC: Editora da UFSC, 2010. Em catalão: p. 74 e 76; em português: 75 e 77.

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