Elaborado no verão de 1946, para inclusão em livro que, de fato, foi
publicado em 1947, com reproduções de telas de artistas surrealistas do “Grupo
de Halmstad”, o poema “Mãe Cósmica”, acompanha reprodução homônima de autoria
do pintor sueco Waldemar Lorentzon (1899-1984), de 1935.
Erjk (ou Erik), também sueco, autoidentifica-se com certa dimensão
filosófica unificadora do universo, tudo em um, apesar de toda a diversidade
que possa se manifestar perante os falíveis olhos humanos.
Suas palavras acompanham o sentido da pintura de Lorentzon – como se pode verificar na imagem reproduzida a seguir –, a conceber a Terra, v.g., como um organismo vivo, Gaia, elemento primordial e latente de um magnífico potencial gerador.
J.A.R. – H.C.
Erik Lindegren
(1910-1968)
var i mig dina
vintergators andning
var i mig den du redan är och alltid har varit
en dröm bortom drömmens berg och bortom hemligheten
något verkligare än verkligheten
något som jag varken kan glömma eller minnas
något som mörka skepp som vandrar upp mot fyren
något som moln som ljusa klippor och klippor som mörka moln
något som förvandlar ofattbar köld till ofattbar värme
något som var i mig
och förvandlade mig
o förvandla mig
gör mig till en hamn för min oros skepp
vänta mig under jorden
sök mig i min urna
o förvandla mig och
var i mig
så som jag omärkligt
vilar i dig
i medvetslös dröm om
dina ögons stjärnbild
“Kosmisk Moder” (“Sviter” - 1947)
Mãe Cósmica
(Waldemar Lorentzon:
pintor sueco)
Mãe Cósmica
sê em mim a
respiração das tuas vias lácteas
sê em mim a que já és
e sempre tens sido
um sonho do outro
lado da montanha dos sonhos e para além do mistério
algo mais real que a
própria realidade
algo que nem esquecer
nem recordar posso
algo como soturnas
naves vagueando para a luz do farol
algo como nuvens tais
luminosas rochas e rochas quais nuvens sombrias
algo que torna o frio
inconcebível inconcebível calor
algo que esteve em
mim e me transfigurou
ó transfigura-me
converte-me em porto
para o navio da minha inquietude
espera por mim no
seio da terra
procura-me na minha
urna
ó transfigura-me e sê
em mim
tal como insensível
em ti repouso
no sonho da
inconsciência e na constelação de teus olhos
“Mãe Cósmica” (“Suítes” - 1947)
Referência:
UNDEGREN, Erjk. Mãe cósmica. In:
DUARTE, Silva (Seleção e tradução). Cinco
poetas suecos. Lisboa, PT: Casa Portuguesa, 1966. p. 79.
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