Hoje, dia das mães, postamos um poema de Mário de Andrade – o
conhecidíssimo autor de “Macunaíma” –, com o título voltado a todas as progenitoras do
mundo.
Segundo Mário, ser mãe é estar num estado permanente de virgindade, entenda-se, de delicada pureza, que, para adentrar, há de se perder a
virgindade, aí sim, física, com o que se gera uma criança pela qual juras de amor vão bem além do seu estágio de infante.
Mas a notícia mais perene acerca da condição materna é a da continuidade da vida sobre a terra. Húmus renovador, moto contínuo que, mesmo que se altere em outras tantas formas de vida, faz conviver “anima” e “animus”, num imparável diálogo sob a seta impetuosa do tempo.
Mas a notícia mais perene acerca da condição materna é a da continuidade da vida sobre a terra. Húmus renovador, moto contínuo que, mesmo que se altere em outras tantas formas de vida, faz conviver “anima” e “animus”, num imparável diálogo sob a seta impetuosa do tempo.
J.A.R. – H.C.
Mário de Andrade
(1893-1945)
Mãe
Existirem mães
Isso é um caso sério.
Afirmam que a mãe
Atrapalha tudo,
É fato, ela prende
Os erros da gente
E era bem melhor
não existir mãe.
Mas em todo caso
Quando a vida está
Mais dura, mais vida,
Ninguém como a mãe
Pra aguentar a gente
Escondendo a cara
Entre os joelhos
dela.
– O que você tem?
Ela bem que sabe
Porém a pergunta
É pra disfarçar.
Você mente muito
Ela faz que aceita,
E a desgraça vira
Mistério pra dois.
Não vê que uma amante
Nem outra mulher
Entende a verdade
Que a gente confessa
Por trás das
mentiras!
Só mesmo uma mãe...
Só mesmo essa dona
Que apesar de ter
A cara raivosa
Do filho entre os
seios
Marcando-lhe a carne,
Sentindo-lhe os
cheiros
Permanece virgem,
E o filho também...
Oh virgens,
perdei-vos,
Pra terdes o direito
A essa virgindade
Que só as mães têm!
Madona com Cristo ainda criança
Giovanni B. S. da
Sassoferrato
(Pintor italiano:
1609-1685)
Referência:
ANDRADE, Mário de. Mãe. In: JORGE, J.
G. de Araújo. No mundo da poesia.
Rio de Janeiro: Edição do Autor, 1969. p. 42-43.
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