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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 10 de maio de 2015

Mário de Andrade - Mãe

Hoje, dia das mães, postamos um poema de Mário de Andrade – o conhecidíssimo autor de “Macunaíma” –, com o título voltado a todas as progenitoras do mundo.

Segundo Mário, ser mãe é estar num estado permanente de virgindade, entenda-se, de delicada pureza, que, para adentrar, há de se perder a virgindade, aí sim, física, com o que se gera uma criança pela qual juras de amor vão bem além do seu estágio de infante.

Mas a notícia mais perene acerca da condição materna é a da continuidade da vida sobre a terra. Húmus renovador, moto contínuo que, mesmo que se altere em outras tantas formas de vida, faz conviver anima e animus”, num imparável diálogo sob a seta impetuosa do tempo. 

J.A.R. – H.C.

Mário de Andrade
(1893-1945)

    Mãe

    Existirem mães
    Isso é um caso sério.
    Afirmam que a mãe
    Atrapalha tudo,
    É fato, ela prende
    Os erros da gente
    E era bem melhor
    não existir mãe.

    Mas em todo caso
    Quando a vida está
    Mais dura, mais vida,
    Ninguém como a mãe
    Pra aguentar a gente
    Escondendo a cara
    Entre os joelhos dela.
    – O que você tem?
    Ela bem que sabe
    Porém a pergunta
    É pra disfarçar.

    Você mente muito
    Ela faz que aceita,
    E a desgraça vira
    Mistério pra dois.

    Não vê que uma amante
    Nem outra mulher
    Entende a verdade
    Que a gente confessa
    Por trás das mentiras!
    Só mesmo uma mãe...
    Só mesmo essa dona
    Que apesar de ter
    A cara raivosa
    Do filho entre os seios
    Marcando-lhe a carne,
    Sentindo-lhe os cheiros
    Permanece virgem,
    E o filho também...

    Oh virgens, perdei-vos,
    Pra terdes o direito
    A essa virgindade
    Que só as mães têm!

Madona com Cristo ainda criança
Giovanni B. S. da Sassoferrato
(Pintor italiano: 1609-1685)

Referência:

ANDRADE, Mário de. Mãe. In: JORGE, J. G. de Araújo. No mundo da poesia. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 1969. p. 42-43.

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