Aqui temos mais um sublime poema a falar do seu próprio nascimento, de
autoria da poetisa paulista Dora Ferreira. Nota-se a caracterização não
utilitária do poema, que surge de quaisquer fatos da vida, como a morte e o
riso, ou mesmo dos inúmeros cenários da natureza.
Senhor do dia e da noite, o poema reina com coroas de pérolas dos mais
diversificados matizes: ou bem reluzentes como o sol ou bem contidos como a luz
da lua.
J.A.R. – H.C.
Dora Ferreira da Silva
(1918-2006)
Nascimento do Poema
É preciso que venha
de longe
do vento mais antigo
ou da morte
é preciso que venha
impreciso
inesperado como a
rosa
ou como o riso
o poema inecessário.
É preciso que ferido
de amor
entre pombos
ou nas mansas colinas
que o ódio afaga
ele venha
sob o látego da
insônia
morto e preservado.
E então desperta
para o rito da forma
lúcida
tranquila:
senhor do duplo reino
coroado
de sóis e luas.
De: “Andanças”
(1948-1970)
Referência:
FERREIRA DA SILVA, Dora. Nascimento do
poema. In: PINTO, José Nêumanne (Sel.). Os cem melhores poetas brasileiros do
século. São Paulo, SP: Geração, 2001. p. 216-217.
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