Temos aqui um pensamento sobre a
despedida da vida, pelo poeta bengali Rabindranath Tagore, que vislumbra a
possibilidade de vir a usufruir, na travessia para o além, todas aquelas coisas
a que atribuiu menor importância durante a sua existência.
A vida espiritual é o que desponta das
palavras de Tagore, em detrimento da experiência material, tangível, concreta
que vivenciamos no dia a dia. Assim como afirma o Eclesiastes (3, 2): “Há tempo
de nascer e tempo de morrer”. Ou ainda (7, 8): “Melhor é o fim das coisas do
que o princípio delas”. Nesse contexto, é possível que Tagore esteja à procura
do melhor!
J.A.R. – H.C.
Rabindranath Tagore
(1861-1941)
92. Despedir-se em
Silêncio
Sei que um dia há de vir em que perderei de vista esta terra, e a vida
há de despedir-se em silêncio, correndo sobre os meus olhos a derradeira cortina.
No entanto, as estrelas hão de vigiar de noite, e a manhã há de
erguer-se como antes, e as horas hão de engrossar como ondas do mar carregando
prazeres e mágoas.
Quando penso nesse fim dos meus instantes, rompe-se o dique dos
instantes e vejo, à luz da morte, o teu mundo com os seus descuidosos tesouros.
Aí, o mais humilde pouso é precioso, e é preciosa a mais obscura das vidas.
Coisas por que em vão suspirei e coisas que alcancei – passem todas!
Possa eu possuir de fato apenas as coisas que sempre rejeitei e desdenhei.
Morte e Vida
(Gustav Klimt: pintor austríaco)
Referência:
TAGORE, Rabindranath. Despedir-se em silêncio. In: __________. Gitanjali:
texto integral. Tradução de Guilherme de Almeida. São Paulo: Martin Claret,
2006. p. 82. (Coleção ‘A Obra-Prima de Cada Autor’, n. 207)
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