Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Jorge de Sena - “De uma Poesia...”

Um poeminha para o dia: um carme do português Jorge de Sena a falar de poesia, de sua dimensão pacífica ou revolucionária, neutra ou engajada.

Seja inverno ou primavera, emerge ela sempre de um espasmo de dor, metáfora de toda criação, concepção, nascimento, parto.

Mas sempre poesia, um ‘insight’ idiossincrático do poeta, tantos por cento de inspiração e outros tantos de esforço consciente.

J.A.R. – H.C.

Jorge de Sena
(1919-1978)

“De uma Poesia...”

(em estilo do Largo da Portagem, em Coimbra)

De uma poesia esperam
tanta cousa!
E logo desesperam,
se não ousa.

Mas a poesia nada tem com isso.
Ela não diz nem faz,
nem está sequer ao teu ou meu serviço.
Serão visões da paz,
aquilo que ela traz:
mas quanta guerra para falar nisso!

Uma só coisa ela terá, se for
(e espera ou desespera,
conforme o meu, o teu, o nosso amor):
Inverno ou Primavera,
e sempre uma outra dor.

(1960)

Paz
(Shelly Penko: artista norte-americana)

Referência:

SENA, Jorge. “De uma poesia...”. In: __________. Versos e alguma prosa de Jorge de Sena. Prefácio e selecção de textos de Eugénio Lisboa. Lisboa, PT: Arcádia e Moraes, 1979. p. 87.

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