Um poeminha para o dia: um carme do português Jorge de Sena a falar de
poesia, de sua dimensão pacífica ou revolucionária, neutra ou engajada.
Seja inverno ou primavera, emerge ela sempre de um espasmo de dor, metáfora de toda criação, concepção, nascimento, parto.
Mas sempre poesia, um ‘insight’ idiossincrático do poeta,
tantos por cento de inspiração e outros tantos de esforço consciente.
J.A.R. – H.C.
Jorge de Sena
(1919-1978)
“De uma Poesia...”
(em estilo do Largo da Portagem, em
Coimbra)
De uma poesia esperam
tanta cousa!
E logo desesperam,
se não ousa.
Mas a poesia nada tem
com isso.
Ela não diz nem faz,
nem está sequer ao
teu ou meu serviço.
Serão visões da paz,
aquilo que ela traz:
mas quanta guerra
para falar nisso!
Uma só coisa ela
terá, se for
(e espera ou
desespera,
conforme o meu, o
teu, o nosso amor):
Inverno ou Primavera,
e sempre uma outra
dor.
(1960)
Paz
(Shelly Penko: artista
norte-americana)
Referência:
SENA, Jorge. “De uma poesia...”. In: __________. Versos e alguma prosa de Jorge de Sena. Prefácio e selecção de textos de Eugénio Lisboa. Lisboa, PT: Arcádia e Moraes, 1979. p. 87.
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