Sobre a arte poética aqui já postamos vários poemas. Mas sobre o cuidado
que se há de ter para que as rígidas regras que se estipulam ao labor poético
não venham a vitimá-lo na origem, parece-me que o poema abaixo, do carioca
Augusto Schmidt, talvez seja o primeiro.
Vejam que bela metáfora o autor emprega na parte final de seu poema,
para descrever uma poesia que se evadiu, cerceada por tantos mandamentos, num
cenário de exéquias: asas escuras ausentam-se de um ambiente marcado pelo “quase
roxo”...
J.A.R. – H.C.
Augusto Frederico Schmidt
(1906-1965)
Ars Poetica
Enquanto procuravam
conceituar a poesia
E velavam sua face
Com palavras
perfeitas,
Enquanto marcavam com
sinais agudos
As fronteiras do
domínio poético,
Enquanto a inteligência
perseguia o mistério –
Veio descendo a tarde
E uma doçura mortal
Envolveu a rua e o
mundo.
No céu quase roxo,
No céu incerto e
delicado,
Asas escuras fugiam
Do noturno próximo
E, subitamente, sinos
Soluçaram.
Leitura de poesia por Horácio:
um dos primeiros defensores do decoro (*)
um dos primeiros defensores do decoro (*)
(Fyodor Bronnikov:
pintor russo)
(*) Adequação do nível linguístico à
posição do personagem.
Referência:
SCHMIDT, Augusto Frederico. Ars poetica.
In: __________. Antologia poética.
Seleção de Waldir Ribeiro do Val. Rio de Janeiro, GB: Leitura, 1962. p. 105.
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