Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Augusto Frederico Schmidt - Ars Poetica

Sobre a arte poética aqui já postamos vários poemas. Mas sobre o cuidado que se há de ter para que as rígidas regras que se estipulam ao labor poético não venham a vitimá-lo na origem, parece-me que o poema abaixo, do carioca Augusto Schmidt, talvez seja o primeiro.

Vejam que bela metáfora o autor emprega na parte final de seu poema, para descrever uma poesia que se evadiu, cerceada por tantos mandamentos, num cenário de exéquias: asas escuras ausentam-se de um ambiente marcado pelo “quase roxo”...

J.A.R. – H.C.

Augusto Frederico Schmidt
(1906-1965)

Ars Poetica

Enquanto procuravam conceituar a poesia
E velavam sua face
Com palavras perfeitas,
Enquanto marcavam com sinais agudos
As fronteiras do domínio poético,
Enquanto a inteligência perseguia o mistério –
Veio descendo a tarde
E uma doçura mortal
Envolveu a rua e o mundo.
No céu quase roxo,
No céu incerto e delicado,
Asas escuras fugiam
Do noturno próximo
E, subitamente, sinos
Soluçaram.

Leitura de poesia por Horácio:
um dos primeiros defensores do decoro (*)
(Fyodor Bronnikov: pintor russo)

(*) Adequação do nível linguístico à posição do personagem.

Referência:

SCHMIDT, Augusto Frederico. Ars poetica. In: __________. Antologia poética. Seleção de Waldir Ribeiro do Val. Rio de Janeiro, GB: Leitura, 1962. p. 105.

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