Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Carlos Nejar - Sabedoria

Um poema de um gaúcho, que bem poderia ser de um amazônida: aquele enorme rio-mar – o Amazonas –, onipresente na vasta planície com os seus afluentes provedores.

No entanto, parece óbvio que a poesia de Nejar diz respeito ao fluxo da própria vida, a transcorrer num curso subterrâneo, com a correnteza do tempo pairando sobre as nossas cabeças.

Rio dentro do rio, nossas vidas à mercê das circunstâncias, do desespero que nos assola. Os peixes como metáfora das oportunidades que deixamos passar, por desatentos. E a nossa sabedoria a se decantar exatamente dessa matéria dos dias. A vida, como início e fim de toda pretensa teleologia humana.

J.A.R. – H.C.

Carlos Nejar
(Porto Alegre, RS: 1939)

    Sabedoria

    Nossa sabedoria é a dos rios.
    Não temos outra.
    Persistir. Ir com os rios,
    onda a onda.

    Os peixes cruzarão nossos rostos vazios.
    Intactos passaremos sob a correnteza
    feita por nós e o nosso desespero.
    Passaremos límpidos.

    E nos moveremos,
    rio dentro do rio,
    corpo dentro do corpo,
    como antigos veleiros.

Barragem Bíblica
(Jacek Yerka: pintor polonês)

Referência:

NEJAR, Carlos. Sabedoria. In: GARCÍA, Xosé Lois. Antologia da poesia brasileira / Antología de la poesía brasileña. Edición bilingüe. Santiago de Compostela, Galiza, U.E.: Laiovento, 2001. p. 288.

Nenhum comentário:

Postar um comentário