Num poema no qual parece deplorar a encruzilhada
em que o conhecimento humano se meteu, nas estações do outono ou do inverno –
quando então as folhas caem –, ali onde a existência e o saber conformariam um
estado hipotético com potencial para tornar estática nossa consciência, sem
impulsos capazes de fazê-la avançar, Wallace Stevens vê somente na imaginação o
recurso primeiro a ser buscado para reinterpretar criativamente o mundo.
Há elementos epistêmicos nesses versos de
Stevens: a estrutura de todo o conhecimento adquirido pela humanidade parece
haver-se contraído, apequenado, por vezes desassistido ficou, malcuidado. No
meio de sua lagoa já meio degradada, assomam ‘lírios’ que foram indevidamente
abandonados, mas que podem, assim mesmo, constituir o húmus com que a própria
casa do saber humano poderá se renovar.
J.A.R. – H.C.
Wallace Stevens
(1879-1955: poeta
norte-americano)
The
Plain Sense of Things
After
the leaves have fallen, we return
To
a plain sense of things. It is as if
We
had come to an end of the imagination,
Inanimate
in an inert savoir.
It
is difficult even to choose the adjective
For
this blank cold, this sadness without cause.
The
great structure has become a minor house.
No
turban walks across the lessened floors.
The
greenhouse never so badly needed paint.
The
chimney is fifty years old and slants to one side.
A
fantastic effort has failed, a repetition
In
a repetitiousness of men and flies.
Yet
the absence of the imagination had
Itself
to be imagined. The great pond,
The
plain sense of it, without reflections, leaves,
Mud,
water like dirty glass, expressing silence
Of
a sort, silence of a rat come out to see,
The
great pond and its waste of the lilies, all this
Had
to be imagined as an inevitable knowledge,
Required,
as a necessity requires.
Old
Knowledge
(Huang
Qiang: artista chinês)
O Claro Sentido das
Coisas
Depois de as folhas
terem caído, regressamos
A um claro sentido das
coisas. É como se
Houvéssemos chegado a um
fim da imaginação,
Inanimada em um saber
inerte.
Torna-se até difícil
escolher o adjetivo
Para este simples
resfriado, esta tristeza sem causa.
A grande estrutura
tornou-se uma casa menor.
Nenhum turbante
atravessa os reduzidos pavimentos.
A estufa nunca
necessitou tanto de pintura.
A chaminé tem cinquenta
anos e se inclina para um lado.
Um fantástico esforço
falhou, uma repetição
Num ciclo de repetições
de homens e moscas.
No entanto, a própria
ausência de imaginação tinha
Que ser imaginada. A
grande lagoa,
O seu claro sentido, sem
reflexões, folhas,
Lodo, água como vidro
sujo, expressando um tipo
De silêncio, silêncio de
um rato a esgueirar-se para ver,
A grande lagoa e o
desperdício de seus lírios, tudo isto
Tinha que ser imaginado
como um inevitável conhecimento,
Requerido, como uma
necessidade requer.
Referência:
STEVENS, Wallace. The plain sense of things. IN:
__________. The collected poems – The rock. 11th
printing. New York: Alfred A. Knopf Inc., 1971. p. 502-503.
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