Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 24 de janeiro de 2015

Wallace Stevens - O Claro Sentido das Coisas

Num poema no qual parece deplorar a encruzilhada em que o conhecimento humano se meteu, nas estações do outono ou do inverno – quando então as folhas caem –, ali onde a existência e o saber conformariam um estado hipotético com potencial para tornar estática nossa consciência, sem impulsos capazes de fazê-la avançar, Wallace Stevens vê somente na imaginação o recurso primeiro a ser buscado para reinterpretar criativamente o mundo.

 

Há elementos epistêmicos nesses versos de Stevens: a estrutura de todo o conhecimento adquirido pela humanidade parece haver-se contraído, apequenado, por vezes desassistido ficou, malcuidado. No meio de sua lagoa já meio degradada, assomam ‘lírios’ que foram indevidamente abandonados, mas que podem, assim mesmo, constituir o húmus com que a própria casa do saber humano poderá se renovar.

 

J.A.R. – H.C.

 

Wallace Stevens

(1879-1955: poeta norte-americano)

 

The Plain Sense of Things

 

After the leaves have fallen, we return

To a plain sense of things. It is as if

We had come to an end of the imagination,

Inanimate in an inert savoir.

 

It is difficult even to choose the adjective

For this blank cold, this sadness without cause.

The great structure has become a minor house.

No turban walks across the lessened floors.

 

The greenhouse never so badly needed paint.

The chimney is fifty years old and slants to one side.

A fantastic effort has failed, a repetition

In a repetitiousness of men and flies.

 

Yet the absence of the imagination had

Itself to be imagined. The great pond,

The plain sense of it, without reflections, leaves,

Mud, water like dirty glass, expressing silence

 

Of a sort, silence of a rat come out to see,

The great pond and its waste of the lilies, all this

Had to be imagined as an inevitable knowledge,

Required, as a necessity requires.

 

Old Knowledge

(Huang Qiang: artista chinês)

 

O Claro Sentido das Coisas

 

Depois de as folhas terem caído, regressamos

A um claro sentido das coisas. É como se

Houvéssemos chegado a um fim da imaginação,

Inanimada em um saber inerte.

 

Torna-se até difícil escolher o adjetivo

Para este simples resfriado, esta tristeza sem causa.

A grande estrutura tornou-se uma casa menor.

Nenhum turbante atravessa os reduzidos pavimentos.

 

A estufa nunca necessitou tanto de pintura.

A chaminé tem cinquenta anos e se inclina para um lado.

Um fantástico esforço falhou, uma repetição

Num ciclo de repetições de homens e moscas.

 

No entanto, a própria ausência de imaginação tinha

Que ser imaginada. A grande lagoa,

O seu claro sentido, sem reflexões, folhas,

Lodo, água como vidro sujo, expressando um tipo

 

De silêncio, silêncio de um rato a esgueirar-se para ver,

A grande lagoa e o desperdício de seus lírios, tudo isto

Tinha que ser imaginado como um inevitável conhecimento,

Requerido, como uma necessidade requer.

 

Referência:

 

STEVENS, Wallace. The plain sense of things. IN: __________. The collected poems  The rock. 11th printing. New York: Alfred A. Knopf Inc., 1971. p. 502-503.

  

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