Parte de um drama que o autor romântico alemão
August von Platen-Hallermünde jamais logrou concluir, com fulcro na lenda de
Tristão e Isolda, o poema “Tristão”, abaixo transcrito, datado de 1825, faz
junção de dois temas que bem estão incorporados ao mito de Narciso: Beleza x
Morte.
Trata-se de um poema para ser cantado (‘lied’,
em alemão), no qual, segundo alguns críticos, estariam plasmadas paixões que
delimitariam a identidade confessadamente homossexual do poeta. Sinceramente,
somente uma leitura mais aprofundada, além dos contornos do meramente
literário, para se alcançar tais conclusões. Talvez pela via do destrinchamento
das lendas e mitos envolvidos, quem sabe?!
J.A.R.
– H.C.
August
von Platen
(1796-1835)
Pintura de Moritz
Rugendas
Nota: o pintor Johann Moritz Rugendas
(1802-1858), de quem reproduzimos acima o seu retrato de Platen, é exatamente o
mesmo que esteve no Brasil, durante o período do primeiro império, a pintar
paisagens, cenas de costumes e o quotidiano do país.
Tristan
Wer
die Schönheit angeschaut mit Augen,
Ist
dem Tode schon anheimgegeben,
Wird
für keinen Dienst auf Erden taugen,
Und
doch wird er vor dem Tode beben,
Wer
die Schönheit angeschaut mit Augen!
Ewig
währt für ihn der Schmerz der Liebe,
Denn
ein Tor nur kann auf Erden hoffen,
Zu
genügen einem solchen Triebe:
Wen
der Pfeil des Schönen je getroffen,
Ewig
währt für ihn der Schmerz der Liebe!
Ach,
er möchte wie ein Quell versiegen,
Jedem
Hauch der Luft ein Gift entsaugen,
Und
den Tod aus jeder Blume riechen:
Wer
die Schönheit angeschaut mit Augen,
Ach,
er möchte wie ein Quell versiechen!
O
tempo ordena à velhice que destrua a beleza
(Pompeo
Batoni: 1708-1787)
Tristão
Aquele que haja contemplado a Beleza com os
olhos,
Sob os cuidados da Morte já se encontra,
Deixará de estar apto para qualquer serviço na
terra,
E ainda assim, vai tremer frente à Morte,
Aquele que haja contemplado a Beleza com os
olhos!
Eterna será para ele a dor do amor,
Pois somente um insensato sobre a terra,
Pode esperar satisfazer tal desejo:
Ao que a flecha da Beleza haja alcançado,
Eterna será para ele a dor do amor!
Ah, quisera ele secar como uma fonte,
Sorver veneno em cada sopro de ar,
E colher o olor da Morte em cada flor:
Aquele que haja contemplado a Beleza com os
olhos,
Ah, quisera ele secar como uma fonte!
Referência:
PLATEN, August von. Lieder und Romanzen:
Tristan. In: __________. Gesammelte Werke. Stuttgart und Tübingen
(DE): J.G. Cotta’scher Verlag, 1839. p. 29.
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