Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Anônimo – Definição de Amor

 No rol de poesias apresentadas na antologia poética lusitana em referência, constam várias em que o editor agrupou sob o subtítulo “Poesias de Autores Anónimos ou Autoria Duvidosa”.

Numa delas, o soneto a seguir transcrito, nota-se, por demais evidente, a influência de Camões sobre o seu incógnito autor, seja pelo tema – o amor, que nesta postagem, fizemos menção em cotejo a um outro soneto de Francisco de Quevedo –, seja pelo padrão linguístico similar ao do vate-mor de além-mar.

É por demais espirituoso, consigne-se, o modo como o soneto em apreço é encerrado: depois de treze tentativas anteriores de definição de seu precioso objeto, o poeta o arremata simplesmente a afirmar que o amor tem muito de substância que lhe parece incompreensível.

Aliás, isso é o que muito raramente deixa de ocorrer a cada vez que pretendemos dar inteligibilidade a sentimentos: as palavras quase nunca conseguem monitorar todo o espectro do que vai no interno humano. Fazer o quê?!

J.A.R. – H.C.

O Beijo
(Gustav Klimt: 1862-1918)

Definição de Amor

         É um nada amor, que pode tudo;
É um não se entender o avisado;
É um querer ser livre, e estar atado,
É um julgar o parvo por sisudo.

         É um reparar os golpes sem escudo;
É um cuidar que é, e estar trocado;
É um viver alegre, e enfadado;
E não poder falar, e não ser mudo.

         É um engano claro, e mui escuro;
É um não enxergar, e estar vendo;
É um julgar por brando ao mais duro.

         É um não querer dizer, e estar dizendo;
É um no mor perigo estar seguro;
É por fim um não sei que, que não entendo.

No Jardim
(Pierre A. Renoir: 1841-1919)

Referência:

ANÔNIMO. Definição de amor. In: TORRES, Alexandre Pinheiro (introdução, selecção e notas). Antologia da poesia portuguesa (Séc. XII-Séc. XX). Volume II (Sécs. XVII-XX). Porto (PT): Lello&Irmão, 1977. p. 146.

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