Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 11 de janeiro de 2015

Um dia como Oblómov

Não sei o que há exatamente comigo, neste início de ano. Uma certa letargia, certa vontade apenas de ficar parado, sem nada fazer. Neste domingo, mesmo com a meteorologia a prometer uma dia bonito e ensolarado lá fora, ainda não me habilitei a levantar da cama. Mal me alimentei e já espero que a tarde avance, a noite chegue e que somente o amanhã me faça despertar – e isso somente em razão de minhas obrigações profissionais. Não fossem elas e...

Estou como o “homem que vai devagar”, do poema do Drummond: “Eta vida besta, meu Deus”. Por agora, nem as minhas janelas “olharão” lentamente! Ou por outra, como se despede, em seus comentos, o Simão na F.S.P.: “Hoje, só amanhã”.

Jovem Dormindo
(William Dobell: 1899-1970)

Tempo Lerdo

Inerte no leito
sem vontade ou agenda para o dia,
num divagar de pensamentos convulsos
a pressionar a mente,
como o vento e a chuva
sobre os vidros dos portais;
ou a vista a pousar sobre uma moldura
sem contornos definidos, onde estável
só o êxtase do inamovível.
Nos olhos, por igual,
os reflexos do ir e vir
de sentimentos
sobre o fluxo contínuo do existir
sem ânimo para a ação.
O empenho apenas em estirar-se
indefinidamente no tempo
assumir-se um Oblómov
sem neve nem frio,
embora por igual
idólatra da inércia;
inércia que se reforça
pelo torpor do clima soporífero
que esse tempo propaga:
tempo como calor sufocante que inunda,
tempo como ano que avança.

J.A.R. – H.C.

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