Não sei o que há exatamente comigo, neste início de ano. Uma certa
letargia, certa vontade apenas de ficar parado, sem nada fazer. Neste domingo,
mesmo com a meteorologia a prometer uma dia bonito e ensolarado lá fora, ainda
não me habilitei a levantar da cama. Mal me alimentei e já espero que a
tarde avance, a noite chegue e que somente o amanhã me faça despertar – e isso
somente em razão de minhas obrigações profissionais. Não fossem elas e...
Estou como o “homem que vai devagar”, do poema do Drummond: “Eta vida besta, meu Deus”.
Por agora, nem as minhas janelas “olharão” lentamente! Ou por outra, como se
despede, em seus comentos, o Simão na F.S.P.: “Hoje, só amanhã”.
Jovem Dormindo
(William Dobell: 1899-1970)
Tempo Lerdo
Inerte no leito
sem vontade ou agenda
para o dia,
num divagar de
pensamentos convulsos
a pressionar a mente,
como o vento e a
chuva
sobre os vidros dos
portais;
ou a vista a pousar sobre
uma moldura
sem contornos
definidos, onde estável
só o êxtase do
inamovível.
Nos olhos, por igual,
os reflexos do ir e
vir
de sentimentos
sobre o fluxo
contínuo do existir
sem ânimo para a
ação.
O empenho apenas em
estirar-se
indefinidamente no
tempo
assumir-se um Oblómov
sem neve nem frio,
embora por igual
idólatra da inércia;
inércia que se
reforça
pelo torpor do clima
soporífero
que esse tempo propaga:
tempo como calor
sufocante que inunda,
tempo como ano que
avança.
J.A.R. – H.C.
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