Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Melissânthi - Satyricon

Uma graça de poema: é o modo pelo qual poderíamos nos expressar para qualificar a presente poesia da grega Melissânti. Redigida num tom espirituoso, fez-me lembrar certa passagem de uma letra do compositor Caetano Veloso (“Dom de Iludir”): “Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”.

O que fazer se baleia e hipopótamo julgam que o “melhor dos mundos possíveis” é representado ontologicamente pelos seres de suas espécies? De nossa parte, preferimos a experiência de sermos humanos. Mas há quem prefira ter identidade com outros animais: ou de outro modo, como caberia a expressão “você é um homem ou um rato?” (rs).

J.A.R. – H.C.

A ânsia de infinito, o mistério da morte e a nostalgia de Deus são alguns dos temas mais frequentes na poesia de Melissânthi. Daí tê-la Kimon Friar filiado àquela linhagem de poetas que escrevem de preferência acerca “do mistério que é a vida e da aniquilação ou salvação que nos virá ao encontro na ocasião da morte”. As mais das vezes, escrevem tais poetas menos a partir das certezas da fé que das incertezas do viver, possuídos que estão do sentimento do “absurdo da existência como consciência em meio a um universo de objetos inconscientes”. É esse sentimento existencial (ou existencialista) que predomina nos poemas mais característicos de Melissânthi, nome literário de Hebe Koúyia Skandaláki, nascida em Atenas em 1910(*), onde fez os seus estudos. Passou algum tempo num sanatório da Suíça tratando-se de tuberculose, e de volta a Atenas dedicou-se ao magistério e ao jornalismo. Além da poesia, cultivou a música e a pintura. Traduziu para o grego poetas americanos (Robert Frost, Emily Dickinson) e franceses (Verlaine, Pierre Garnier). O seu livro de estreia, Vozes de Inseto [Fones Entornou], é de 1930. A ele se seguiram, nos anos subsequentes, dez outros, entre os quais O Retorno do Pródigo [Gyrismós toú Asótou, 1936], Forma Humana [Anthrópino Sxíma, 1961], A Barreira do Silêncio [To Fragma tis Siopís, 1965] e Novos Poemas [Néa Poiímata, 1974]. Alguns desses livros – mais tarde reunidos todos em Os Poemas de Melissânthi [Tà Poiímata tis , 1975] – foram distinguidos com prêmios literários, inclusive O Irmãozinho [O Mikrós Adelfós, 1960], uma peça de teatro para crianças (PAES, 1986, p. 252). 

Melissânthi
[Hebe K. Skandaláki]
(1907-1990)


Ρώτησαν τη φάλαινα
αν θα ΄θελε να πεθάνει
και να μεταμορφωθεί
σ΄ ανάλαφρο πλάσμα του αέρα
κι απάντησε· «Όχι, ποτέ
Ναι, θα ΄θελε για πάντοτε να μείνει
μέσα στη βεβαιότητα του υγρού στοιχείου
μια φάλαινα και τίποτα άλλο.
«Φάλαινα στην αιωνιότητα! – φώναξε κάποιος
Μ΄ αυτό είναι μια τερατωδία
Να ΄ταν τουλάχιστον, καθώς εγώ
ένας ιπποπόταμος

Baleia
(Steve Greco: artista norte-americano)

Satyricon

Perguntaram à baleia
se queria morrer
para transformar-se numa lépida
criatura do ar.
Ela respondeu: “Jamais!”
Queria mesmo era ficar para sempre
na segurança do seu líquido elemento,
uma baleia apenas, nada mais.
“Uma baleia por toda a eternidade! – exclamou alguém.
– Mas isso é monstruoso.
Se ao menos fosse, como eu,
um hipopótamo!”

De: Novos Poemas

Dom de Iludir
(Caetano Veloso)

Nota:
(*)   Há controvérsia quanto ao efetivo ano de nascimento da poetisa, pois alguns ‘sites’ especializados em poesia grega apontam o ano de 1907.

Referência:
PAES, José Paulo (seleção e tradução). Poesia moderna da Grécia. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986. p. 251.

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