Você já terá imaginado a cena e as circunstâncias do dia de sua morte?
O poeta grego, nascido em Constantinopla (atual Istambul, na Turquia),
Kóstas Níarxos (pseudônimo “Kóstas Ouránis”), fez um esforço de imaginação no poema
que postamos a seguir: morrerá desamparado e xingado por uma de suas amantes, em
Paris. Lembranças? Só as de alguns amigos com quem jogava cartas e, óbvio, as
de seus envelhecidos pais, lá na vila interiorana da Grécia distante em que
nasceu. Melancolicamente, num clima outonal.
E o seu fim, como será? Lúgubre, assim? (rs).
J.A.R. – H.C.
Kóstas Ouránis
(Κώστας Οὐράνης: 1890-1953)
Θὰ πεθάνω ἕνα πένθιμο...
Θὰ πεθάνω ἕνα πένθιμο τοῦ φθινόπωρου δείλι
μέσ᾿ στὴν κρύα μου κάμαρα, ὅπως ἔζησα μόνος·
στὴ στερνὴ ἀγωνία μου τὴ βροχὴ θὲ ν᾿ ἀκούω
καὶ τὸν κούφιο τὸν θόρυβο ποὺ ἀνεβάζει ὁ δρόμος.
Θὰ πεθάνω ἕνα πένθιμο τοῦ φθινόπωρου δείλι
μέσα σ᾿ ἔπιπλα ξένα καὶ σὲ σκόρπια βιβλία,
θὰ μὲ βροῦν στὸ κρεββάτι μου. Θὲ νἀρθεῖ ὁ ἀστυνόμος
θὰ μὲ θάψουν σὰν ἄνθρωπο ποὺ δὲν εἶχε ἱστορία.
Ἀπ᾿ τοὺς φίλους ποὺ παίζαμε πότε-πότε χαρτιὰ
θὰ ρωτήσει κανένας τους ἔτσι ἁπλά: «-Τὸν Οὐράνη
μὴν τὸν εἶδε κανείς; Ἔχει μέρες ποὺ χάθηκε!...»
Θ᾿ ἀπαντήσει ἄλλος παίζοντας: «-Μ᾿ αὐτὸς ἔχει πεθάνει».
Μιὰ στιγμὴ θὰ κοιτάξουνε ὁ καθένας τὸν ἄλλον,
θὰ κουνήσουν περίλυπα καὶ σιγὰ τὸ κεφάλι,
θὲ νὰ ποῦν: «Τ᾿ εἶν᾿ ὁ ἄνθρωπος!...
Χτὲς ἀκόμα ζοῦσε!»
Καὶ βουβὰ τὸ παιγνίδι τους θ᾿ ἀρχινήσουνε πάλι.
Κάποιος θἆναι συνάδελφος στὰ «ψιλὰ» ποὺ θὰ γράψει
πὼς «προώρως ἀπέθανεν ὁ Οὐράνης στὴν ξένη,
νέος γνωστὸς εἰς τοὺς κύκλους μας, ποὖχε κάποτ᾿ ἐκδώσει
συλλογὴν μὲ ποιήματα πολλὰ ὑποσχομένην».
Κι αὐτὸς θἆναι ὁ στερνός της ζωῆς μου ἐπιτάφιος.
Θὰ μὲ κλάψουνε βέβαια μόνο οἱ γέροι γονιοί μου
καὶ θὰ κάνουν μνημόσυνο μὲ περίσιους παπάδες
ὅπου θἆναι ὅλοι οἱ φίλοι μου κι ἴσως-ἴσως οἱ ὀχτροί μου.
Θὰ πεθάνω ἕνα πένθιμο τοῦ φθινόπωρου δείλι
σὲ μία κάμαρα ξένη στὸ πολύβοο Παρίσι,
καὶ μία Κίττυ θαρώντας πὼς τὴν ξέχασα γι᾿ ἄλλην
θὰ μοῦ γράψει ἕνα γράμμα -καὶ νεκρὸ θὰ μὲ βρίσει.
Autorretrato com a Morte como Violinista
(Arnold Böcklin:
1827-1901)
Hei de morrer numa tarde melancólica de
outono...
Hei de morrer numa
tarde melancólica de outono,
no meu quarto frio,
como tenho vivido: sozinho.
Na hora extrema da
agonia, ouvirei a chuva a pingar
lá fora, na rua com
seus rumores conhecidos.
Hei de morrer numa
tarde melancólica de outono,
entre móveis
estrangeiros, entre livros espalhados.
Vão achar-me no
leito; virá a polícia depois.
Um homem sem
história: assim eu serei sepultado.
Dos amigos com os
quais costumava jogar cartas,
um perguntará
casualmente: “Que foi que aconteceu
ao Ouránis? Alguém o
viu? Faz dias que sumiu...”
E, enquanto joga, um
outro dirá: “Mas ele já morreu!”
Ficarão, por um
momento, de olhos fitos na cartas,
sacudindo a cabeça
num gesto lento de pesar,
como a dizer: “Que
mundo! Inda ontem estava vivo...”
E outra vez, sem mais
palavras, ao seu jogo hão de voltar.
Algum colega
escreverá uma breve notícia:
“Muito jovem, faleceu
Ouránis no estrangeiro; era
conhecido em nossos
meios letrados por um livro
que deu à estampa, de
versos promissores devera”.
Esta será a única
menção à minha morte.
Na aldeia vão chorar
por mim meus velhos pais, somente.
Mandarão rezar missa
de réquiem, com diversos padres:
amigos (e inimigos
talvez) estarão presentes.
Hei de morrer numa
tarde melancólica de outono,
entre os ruídos de
Paris, num quarto sem conforto.
Alguma Ketty,
imaginando que a esqueci por outra,
me escreverá uma
carta – e xingará então um morto.
De: “Nostalgias” (1920)
Referência:
OURÁNIS, Kóstas. Hei de morrer numa
tarde melancólica de outono. Tradução de José Paulo Paes. In: PAES, José Paulo (seleção e tradução). Poesia moderna da Grécia. Rio de
Janeiro, RJ: Guanabara, 1986. p. 127-128.
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