Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

José María Alvarez - Beleza Contemporânea

O poeta e novelista espanhol José María Alvares sintetiza, no poema em epígrafe, extraído de sua obra “Museo de Cera”, aquilo que sob a sua visão corresponde à beleza contemporânea.

Em determinada noite, muito provavelmente passada em Nova York, assomou-lhe ‘insights’ estéticos no domínio de várias artes, como a própria literatura – quando faz menção a Goethe, Pound, Borges –; a arquitetura – o arranha-céu ‘Chrysler Building’ na ‘Big Apple’  –; o ‘bel canto’, em performances marcantes de Renata Scotto e Carlo Bergonzi, em ‘Rigoletto’ de Verdi –; e por aí vai.

Imerso sob tanta beleza e prazer, espera ao final cair nos braços de Morfeu, para sonhar com reis sepultados sob montículos de conchas do mar, uma dádiva de Poseidon para a eternidade.

J.A.R. – H.C.

José María Alvarez
(n. 1942)

Belleza Contemporánea

¿Temer tu la muerte?”
ROBERT BROWNING

“Nuevas estrellas arden en los cielos antiguos”
RUPERT BROOKE

Gracias, Noche amantísima,
por la perfección de este momento.
Por la comodidad de este sillón
que me permite contemplarte sin que nada
distraiga mis sentidos de tu belleza.
Por la calidad y la temperatura de esta vodka
que ampara mi sensualidad y la consagra mejor a ti.
Por la excelencia del sonido de este mecanismo japonés
que me regala la maravilla
de la Scotto y Bergonzi en esse dúo imperecedero
del primero acto de RIGOLETTO.
Gracias, Noche encantada,
porque todo eso me envuelve ante este ventanal por el que
   contemplo
la seductora hermosura del Chrysler Building,
al que Tu, con tu manto bruñido,
haces brillar magnífico, turbador.

Este momento no es inferior
a la sensación que tuvo Goethe ante Sesenheim,
o Pound ante Venezia
o Borges ante Islandia.
Gracias, Noche narcotizadora,
gracias por concederme la inmensidad de este momento,
por enriquecer mi carne con este estremecimiento.
Déjame agradecértelo. Te brindo mi placer.
Y después entro en ti, me adormeczo, soñando
con aquellos viejos reyes que se hacían enterrar
bajo montículos de conchas marinas.

O Litoral
Kimberly Conrad: artista norte-americana


Beleza Contemporânea

“Temer tu a morte?”
ROBERT BROWNING

“Novas estrelas ardem nos céus antigos”
RUPERT BROOKE

Obrigado, Noite amantíssima,
pela perfeição deste momento.
Pela comodidade deste sofá
que me permite contemplar-te sem que nada
distraia os meus sentidos da tua beleza.
Pela qualidade e a temperatura desta vodka
que ampara a minha sensualidade e melhor a consagra a ti.
Pela excelência do som deste mecanismo japonês
que me oferece a maravilha
de Scotto e Bergonzi nesse duo imorredouro
do primeiro ato de RIGOLETTO.
Obrigado, Noite encantada,
porque tudo isso me envolve diante desta vidraça pela qual
   contemplo
o sedutor encanto do Chrysler Building
a que Tu, com o teu comando cintilante,
fazes brilhar magnífico, perturbador.

Este momento não é inferior
à sensação que teve Goethe diante de Sesenheim,
ou Pound diante de Veneza
ou Borges diante da Islândia.
Obrigado, Noite narcotizante,
obrigado por me concederes a imensidão deste momento,
por enobreceres a minha carne com este estremecimento.
Deixa-mo agradecer-te. Dedico-te o meu prazer.
E depois entro em ti, adormeço, sonho
com aqueles velhos reis que se faziam enterrar
sob montículos de conchas marinhas.

Referência:

ALVAREZ, José María. Belleza contemporánea. In: MAGALHÃES, Joaquim Manuel (Seleção e Tradução). Poesia espanhola de agora. Edição Bilíngue. Posfácio de José Ángel Cilleruelo. Lisboa (PT): Relógio D’Água, 1997. p. 62 (esp.) e p. 63 (port.).

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