Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 9 de fevereiro de 2025

Lya Luft - Quem sou

A autora gaúcha, celebrando a vida e o resiliente porte, reflete, no lastro de toda a herança e linhagem familiar, sobre a sua própria identidade, assim como as experiências por que passou e o significado que delas auferiu: por trás das aparências, daquilo que externamente se observa de sua “personagem”, segue em busca da verdadeira essência, a qual, em última instância, teria o dom de fazê-la entrar em sintonia com o ser autêntico.

 

Somos essa panóplia de influências, cujas origens não são muito bem conhecidas, em mescla ao que nos foi transmitido por nossos ancestrais – espírito alegre ou melancólico, tenacidade, retidão, esperanças, fantasias –, tudo a tomar parte nessa “bagagem” que, como suporte, carregamos para decifrar o que há de mais nosso na sucessão dos dias.

 

J.A.R. – H.C.

 

Lya Luft

(1938-2021)

 

Quem sou

 

Do pai, a retidão e certa melancolia:

o olhar sobre o que vem atrás

do espelho. Da mãe,

a alegria. Da remota linhagem,

o novelo de fios que tramam

alma e imagem,

ninguém sabe quando e onde.

 

Mais os trabalhos e a dor, a fantasia,

a obstinada procura, alguma sorte,

muita esperança na bagagem.

 

(Dissabores fazem parte: maior

foi a celebração da vida.)

 

Entre o começo e a morte,

mar e miragem:

não há muito de mim

na personagem que contemplas.

 

(Há que buscar o que ela esconde.)

 

O Duplo Segredo

(René Magritte: artista belga)

 

Referência:

 

LUFT, Lia. Quem sou. In: __________. Para não dizer adeus. 2. ed. Rio de Janeiro, RJ: Record, 2005. p. 41.

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