A autora gaúcha,
celebrando a vida e o resiliente porte, reflete, no lastro de toda a herança e
linhagem familiar, sobre a sua própria identidade, assim como as experiências por
que passou e o significado que delas auferiu: por trás das aparências, daquilo que
externamente se observa de sua “personagem”, segue em busca da verdadeira
essência, a qual, em última instância, teria o dom de fazê-la entrar em sintonia
com o ser autêntico.
Somos essa panóplia
de influências, cujas origens não são muito bem conhecidas, em mescla ao que
nos foi transmitido por nossos ancestrais – espírito alegre ou melancólico, tenacidade,
retidão, esperanças, fantasias –, tudo a tomar parte nessa “bagagem” que, como
suporte, carregamos para decifrar o que há de mais nosso na sucessão dos dias.
J.A.R. – H.C.
Lya Luft
(1938-2021)
Quem sou
Do pai, a retidão e
certa melancolia:
o olhar sobre o que
vem atrás
do espelho. Da mãe,
a alegria. Da remota
linhagem,
o novelo de fios que tramam
alma e imagem,
ninguém sabe quando e
onde.
Mais os trabalhos e a
dor, a fantasia,
a obstinada procura,
alguma sorte,
muita esperança na
bagagem.
(Dissabores fazem
parte: maior
foi a celebração da
vida.)
Entre o começo e a
morte,
mar e miragem:
não há muito de mim
na personagem que
contemplas.
(Há que buscar o que
ela esconde.)
O Duplo Segredo
(René Magritte:
artista belga)
Referência:
LUFT, Lia. Quem sou.
In: __________. Para não dizer adeus. 2. ed. Rio de Janeiro, RJ: Record,
2005. p. 41.
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