Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 16 de fevereiro de 2025

Pierre Albert-Birot - Aos Jovens Poetas

À maneira de Tristan Tzara, em “Para fazer um poema dadaísta” – embora não tão específico quanto à linha de expressão em que perpassado –, Albert-Birot fornece aos “jovens poetas”, num tom didático, conselhos práticos a serem observados na elaboração de poemas, bem assim os valores que os devem guiar em suas sendas até a expressão artística.

 

O autor enfatiza a importância de se contemplar atentamente a “paisagem” interna e externa, pois que a inspiração para o poema pode surgir tanto da apreciação do mundo exterior quanto da introspecção pessoal, devendo o poeta ser comedido na exposição engenhosa de suas ideias, para não as lançar, tediosamente, em uma torrente verborrágica sobre os versos.

 

Todo esse “material intangível” colhido deve ser “trabalhado, modelado, lapidado e jungido”, à luz de regras próprias ou extrínsecas, com o objetivo fulcral de se converter a inspiração inicial em uma forma poética coerente e estética, combinando equilibradamente as palavras, os sons e os ritmos.

 

Tem-se, assim, que um misto de observação, humildade, trabalho árduo e autenticidade no processo criativo deve ser o ferramental básico para que o poeta possa expressar com fidelidade as suas próprias experiências, suas emoções, suas visões de mundo – sua verdade pessoal, em síntese –, timbre essencial a caracterizar um vate genuíno e de primeira linha.

 

J.A.R. – H.C.

 

Pierre Albert-Birot

(1876-1967)

 

Aux Jeunes Poètes

Poème genre didactique

 

Pour faire un poème

Pardonnez-moi ce pléonasme

Il suffit de ce promener

Quelque fois sans bouger

 

Regarder dehors et dedans

Avec toutes les cellules

De votre vous

 

Et voici que vous êtes riche

 

Mais n’en dites rien à personne

Pour aujourd’hui

Ne faites pas le nouveau-riche

Apprenez les bonnes manières

Car la fortune est peu de chose

À qui ne sait pas s’en servir

 

Vous voici fécondés

 

Travaillez façonnez polissez assemblez

Tous ces immatériels matériaux

 

Maintenant

Que vous avez reçu le monde en vous

Portez le monde qui va naître

 

Obéissez

Parfois aux lois des autres

Parfois aux vôtres

Parfois encore et surtout

À la Loi

Qui n’est ni des autres ni de vous

 

Et vous serez aimés

Des mots des sons des rythmes

Qui s’ordonneront pour vous plaire

 

Soyez triple comme un dieu

Ou plutôt comme une mère

Et naîtra le poème

 

Mais j’aurais dû tout simplement vous dire

Copier copier

Religieusement

La Vérité que vous êtes

Et vous ferez un poème

 

À condition que vous soyez poète

 

Dans: “La lune ou le Livre des poèmes” (1924)

 

A imaginação do poeta

(José Ventura: artista salvadorenho)

 

Aos Jovens Poetas

Poema do gênero didático

 

Para redigirdes um poema

Perdoai-me este pleonasmo

Tudo o que tendes a fazer é caminhar

Às vezes sem vos mover

 

Olhando para fora e para dentro

Com todas as células

Do vosso ser

 

E vede então que vós sois ricos

 

Mas não o digais a ninguém

Pelo momento

Não vos arrogueis em novos-ricos

Aprendei as boas maneiras

Porque a fortuna é pouca coisa

Para os que dela não sabem servir-se

 

E eis que vós estais fecundados

 

Amolgai dai forma lustrai agregai

Todos esses materiais imateriais

 

Agora

Que recebestes o mundo dentro de vós

Carregai-o até que venha a nascer

 

Obedecei

Às vezes as leis dos outros

Às vezes às vossas próprias

Às vezes uma vez mais e acima de tudo

À Lei

Que não é dos outros nem vossa

 

E sereis amados

Pelas palavras pelos sons pelos ritmos

Que se ordenarão para vos comprazer

 

Sede triplos como um deus

Ou melhor como uma mãe

E o poema nascerá

 

Mas eu deveria simplesmente haver-vos dito

Copiai copiai

Religiosamente

A Verdade que vós sois

E que fareis um poema

 

Sob a condição de que sejais poetas

 

Em: “A lua ou o Livro de poemas” (1924)

 

Referência:

 

ALBERT-BIROT, Pierre. Aux jeunes poètes. In: DÉCAUDIN, Michel (Éd.). Anthologie de la poésie française du XXe siècle. Préface de Claude Roy. Édition revue et augmentée. Paris, FR: Gallimard, 2000. p. 145-146.

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