À maneira de Tristan
Tzara, em “Para
fazer um poema dadaísta” – embora não tão específico quanto à linha de
expressão em que perpassado –, Albert-Birot fornece aos “jovens poetas”, num
tom didático, conselhos práticos a serem observados na elaboração de poemas,
bem assim os valores que os devem guiar em suas sendas até a expressão
artística.
O autor enfatiza a
importância de se contemplar atentamente a “paisagem” interna e externa, pois
que a inspiração para o poema pode surgir tanto da apreciação do mundo exterior
quanto da introspecção pessoal, devendo o poeta ser comedido na exposição engenhosa
de suas ideias, para não as lançar, tediosamente, em uma torrente verborrágica
sobre os versos.
Todo esse “material
intangível” colhido deve ser “trabalhado, modelado, lapidado e jungido”, à luz
de regras próprias ou extrínsecas, com o objetivo fulcral de se converter a
inspiração inicial em uma forma poética coerente e estética, combinando equilibradamente
as palavras, os sons e os ritmos.
Tem-se, assim, que um
misto de observação, humildade, trabalho árduo e autenticidade no processo
criativo deve ser o ferramental básico para que o poeta possa expressar com
fidelidade as suas próprias experiências, suas emoções, suas visões de mundo –
sua verdade pessoal, em síntese –, timbre essencial a caracterizar um vate genuíno
e de primeira linha.
J.A.R. – H.C.
(1876-1967)
Poème genre didactique
Pour faire un poème
Pardonnez-moi ce pléonasme
Il suffit de ce promener
Quelque fois sans bouger
Regarder dehors et dedans
Avec toutes les cellules
De votre vous
Et voici que vous êtes riche
Mais n’en dites rien à personne
Pour aujourd’hui
Ne faites pas le nouveau-riche
Apprenez les bonnes manières
Car la fortune est peu de chose
À qui ne sait pas s’en servir
Vous voici fécondés
Travaillez façonnez polissez assemblez
Tous ces immatériels matériaux
Maintenant
Que vous avez reçu le monde en vous
Portez le monde qui va naître
Obéissez
Parfois aux lois des autres
Parfois aux vôtres
Parfois encore et surtout
À la Loi
Qui n’est ni des autres ni de vous
Et vous serez aimés
Des mots des sons des rythmes
Qui s’ordonneront pour vous plaire
Soyez triple comme un dieu
Ou plutôt comme une mère
Et naîtra le poème
Mais j’aurais dû tout simplement vous dire
Copier copier
Religieusement
La Vérité que vous êtes
Et vous ferez un poème
À condition que vous soyez poète
Dans: “La lune ou le Livre
des poèmes” (1924)
A imaginação do poeta
(José Ventura: artista
salvadorenho)
Aos Jovens Poetas
Poema do gênero
didático
Para redigirdes um
poema
Perdoai-me este
pleonasmo
Tudo o que tendes a
fazer é caminhar
Às vezes sem vos
mover
Olhando para fora e
para dentro
Com todas as células
Do vosso ser
E vede então que vós
sois ricos
Mas não o digais a
ninguém
Pelo momento
Não vos arrogueis em
novos-ricos
Aprendei as boas
maneiras
Porque a fortuna é
pouca coisa
Para os que dela não
sabem servir-se
E eis que vós estais
fecundados
Amolgai dai forma lustrai
agregai
Todos esses materiais
imateriais
Agora
Que recebestes o
mundo dentro de vós
Carregai-o até que
venha a nascer
Obedecei
Às vezes as leis dos
outros
Às vezes às vossas
próprias
Às vezes uma vez mais
e acima de tudo
À Lei
Que não é dos outros
nem vossa
E sereis amados
Pelas palavras pelos
sons pelos ritmos
Que se ordenarão para
vos comprazer
Sede triplos como um
deus
Ou melhor como uma
mãe
E o poema nascerá
Mas eu deveria
simplesmente haver-vos dito
Copiai copiai
Religiosamente
A Verdade que vós
sois
E que fareis um poema
Sob a condição de que
sejais poetas
Em: “A lua ou o Livro
de poemas” (1924)
Referência:
ALBERT-BIROT, Pierre.
Aux jeunes poètes. In: DÉCAUDIN, Michel (Éd.). Anthologie de la poésie française
du XXe siècle. Préface de Claude Roy. Édition revue et augmentée. Paris,
FR: Gallimard, 2000. p. 145-146.
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